Por estas páginas vão passar algumas vacas, uma beldade a caminho de África e peixes, muitos peixes. Um pai leiteiro e um primeiro marido dono de barcos de pesca hão de marcar a vida discreta de uma mulher que nunca terá sonhado ver a sua história a abrir telejornais. Não consta que quisesse concorrer a miss beleza, por Sintra, Lobito ou Rinchoa, mas não lhe tirassem o bâton vermelho, por favor.
Os vizinhos conheciam-na reservada, os familiares acrescentam explosiva. E refilona, recorda Armando Gaspar, primo em segundo grau da parte do pai, mais novo 13 anos. «Às vezes, na brincadeira dizia-lhe: ‘Tás cá um pêssego!’ E ela logo: ‘Põe-te a andar, és um chato! Qualquer dia não te abro a porta!’» Quando a visitava, Armando tocava à campainha três vezes, um código combinado por uma mulher que tinha sido linda, em nova. «Baixinha, elegante, cabelo castanho comprido sempre bem tratado… Era uma estampa», resume o primo. E desconfiada, como se viu.
FILHA DE MÃE INCÓGNITA
Recue-se ainda mais, até às zero horas e dez minutos do dia 12 de fevereiro de 1915, altura em que nasce Augusta Duarte Martinho, numas águas-furtadas do bairro da Estefânia, na freguesia de Santa Maria de Sintra. A casa, hoje pintada de cor-de-rosa-velho, tem o número 6 da Avenida Dom Francisco de Almeida.