Alberto não é homem de contar quantas almas já separou dos corpos. Sabe que começou com 11 anos e cedo aprendeu a fazer desaparecer gente pelo método do microondas. «É numa espécie de caverna, nas rochas, no cimo do morro. A gente põe o cara lá, bota fogo e tapa a entrada da caverna», descreve sem emoção. Há também a técnica do pneu: «O cara está em pé, nós bota os pneus por cima e joga gasolina ou querosene.» Com um certo brio do dever cumprido, Alberto relata como matou a tiro um «cara que passava as mãos nos sobrinhos» (um pedófilo). «Nem era para matar, só para torturar. Mas olha, foi.»
O tratamento dado aos «X-9», os traidores, tem outros requintes. A exigência da sociedade aos moradores das favelas, de que denunciem os traficantes, não tem em conta a realidade. É muito fácil saber quem «xisnovou»: basta pagar a um polícia, uma prática habitual, semanal. E sabendo… «Primeiro cortamos a
língua e jogamos no meio da rua para todo o mundo ver, para dar o exemplo. Dependendo da gravidade da denúncia, às vezes também cortamos a cabeça com um machado. Depois levamos para o microondas», explica Alberto, que aos 11 foi olheiro (ver Como se organiza o tráfico), aos 12 vapor, aos 14 gerente do pó de
cinco (cocaína vendida em sacos de cinco reais) e aos 16 anos já só respondia ao dono da favela, o líder do tráfico. Gerava lucros entre os 70 mil reais (25 mil euros) por semana e os 30 mil reais (11 mil euros).