O The New York Times voltou a divulgar a sua lista anual de 52 locais a visitar, e Portugal é, mais uma vez, destacado.
Para aquele que será o terceiro ano que vivemos em pandemia, os desafios de configurar um guia de viagens com todas as limitações que nos foram impostas foram inúmeros, e o diário focou-se em destacar locais e regiões onde os visitantes podem “ser parte da solução”.
Por trás da lista “52 Places for a Changed World” (“52 Lugares para um Mundo Mudado”) está a ideia de destacar lugares onde a mudança está realmente a acontecer – “onde terras selvagens ameaçadas estão a ser preservadas, espécies ameaçadas estão a ser protegidas, os erros históricos estão a ser reconhecidos, comunidades frágeis estão a ser reforçadas”.
E os viajantes podem fazer parte dessa mudança, tomando a lista de 52 locais como inspiração para tornarem as suas viagens “mais intencionais e mais gratificantes” em 2022.
Nesse sentido, surge na sétima posição uma região bem conhecida dos portugueses: a Região Vinícola do Alentejo.
“A vitivinicultura sustentável não é apenas uma tendência – é a sobrevivência de uma região onde a água é escassa”, escreve o diário, que destaca as mudanças introduzidas na produção dos vinhos da região, dos mais apreciados pelos portugueses – e também lá fora.
O jornal realça o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, que pretende ajudar a implementar melhores práticas a nível regional, desde a produção da uva à expedição do vinho já engarrafado.
O programa foi criado em 2015 para proteger o património vitivinícola da região e fazer face aos desafios que o setor enfrenta hoje em dia.
O Alentejo reune as condições perfeitas para a produção de vinho: o clima típico mediterrânico, caracterizado por verões quentes e secos, combinado com solos de origem granítica; as castas autóctones e uma tradição secular de vinificação. Mas as alterações climáticas têm pressionado cada vez mais a região onde a chuva já é naturalmente escassa.
Com 483 membros e 10834 hectares de área abrangida, o Programa advoga por melhores práticas tanto na vinha como na adega, que visam proteger a biodiversidade, promover a boa administração dos resíduos e a preferência por energias sustentáveis, e o envolvimento da comunidade.
São incentivadas práticas agrícolas menos intensivas e que preservam a qualidade dos solos e minimizam o impacto ambiental, como o enrelvamento – uma técnica que consiste na instalação de uma cobertura vegetal no solo, que cobre total ou parcialmente a superfície da vinha.
Os efeitos positivos no solo são inúmeros: redução da erosão do solo, libertação de nutrientes úteis para as videiras através da decomposição dos resíduos naturais dos enrelvamentos, e infiltração de água que permite níveis ótimos de humidade. Também é encorajada a redução do uso de herbicidas e pesticidas, e a conservação dos habitats que abrigam a fauna e flora características do Alentejo.
O Programa implementa ainda uma série de medidas destinadas, por exemplo, à poupança de água, que já permitiram às adegas reduzir o seu consumo médio de água em 20%. Algumas que utilizavam cerca de 14 litros de água para produzir um litro de vinho conseguiram diminuir esse valor para seis litros.
Além da poupança de água e energia, o Programa preconiza também a adoção de melhores práticas no embalamento dos vinhos, através do uso de materiais duráveis, recicláveis e de produção local.
A Herdade dos Coelheiros, um dos membros do Programa, localizada na Igrejinha, em Arraiolos, é igualmente destacada pelo jornal, que fala da produção de cortiça de sobreiro e do rebanho de ovelhas residente na Herdade que funciona como uma “solução orgânica para o controlo de ervas daninhas”.
Entre os 52 locais únicos selecionados pelo The New York Times, encontra-se ainda a ilha espanhola de El Hierro, o Parque Nacional de Chimanimani, em Moçambique ou a região francesa da Normandia.