A vida está repleta daqueles momentos em que podíamos parar, olhar à volta, respirar fundo, olhar para dentro, e dizer obrigada. Estar gratos por o sol ter nascido outra vez, por termos uma refeição à espera, por termos saúde para enfrentar o dia que aí vem e alguém com quem o partilhar.
E nesta central América basta abrir os olhos para estar radiante. Não é preciso sequer ir à janela, porque a maior parte das noites passo-as na selva, a adormecer com os sons da vida noturna ativa da bicharada e acordo com montanhas e vales infinitos verdes, com fumaça das casas maias a sair dos cantos, os pica-paus a trabalhar nos seus troncos, as iguanas e as serpentes a rastejar por aí fora. Tenho tido yoga ao pôr-do-sol, e ainda assim o calor faz-me continuar a escorrer que nem frango no espeto. É a principal razão para subir às árvores e mergulhar cascatas, os lagos e os rios abundantes nesta floresta tropical desarmante, verde, intensa.
A propósito, estou na Guatemala. Andei a saltitar na vibe africana do Belize, a ver dos tubarões e dos recifes até onde chegam os pulmões, e desde que voltei a trocar o barco pelas rodas, que são só dias inesperados de aventuras a desbravar selvas, a comunicar com macacos, andar à caça dos pássaros todos exóticos, a nadar nos rápidos, a subir vulcões, a beber cervejas quentes e a apaixonar-me pelas pessoas lindas deste país.
Falar espanhol tem sido a maior curtição desta viagem. A intensidade de poder conversar com as pessoas, dizer piadas, perguntar às mães se os bebés dormem bem de noite, falar com os putos, ler o jornal da região, gritar para o motorista da parte de trás, é outro ritmo, dá-me um andamento que me faz sentir que tudo é possível.
Mas a verdade é que as últimas semanas as passei acompanhada, “cacei” um gringo. Somos queridos e divertidos, um diz mata e o outro diz esfola para explorar, e ambos temos algo valioso a oferecer à equipa. Ele é um GPS andante, e eu aponto direções.
Sinto que cheguei ao destino. Não ao da viagem ainda, mas ao meu próprio. Já nada me vai tirar esta confiança em quem eu sou enquanto viajante, enquanto pessoa do mundo que se imerge em qualquer cultura com sorrisos, mãos, cumprimentos, amor. Sobretudo nos hostels, falo com a malta que por aí anda, e tenho sempre muito a sensação de que apanhar shuttles não é a mesma coisa que um dia a mudar de van lotada cada 3 horas (uns 100km nesta pura Guatemala). Isto é, ninguém se faz muito ao bife, e eu não sei viajar de outra maneira. Reservas e cartões de crédito é coisa que desaparece da existência quando compro ananás por 1 Quetzal (ora, cada 10 faz 1€).
A propósito, o meu tablet morreu, portanto o blog está meio bloqueado.
Hoje não quero terminar como se isto fosse uma crónica, mas uma carta.
Portanto, um grande beijinho!