Estas são as verdadeiras aventuras que a vida tem para nos oferecer. Vim dois meses para um país divido em dois a pensar que ia estar todo o tempo a trabalhar com refugiados e que sabia alguma coisa que fosse verdade. Acabei a perceber que os campos se tornaram cidades e que se queria de facto entender o conflito, tudo o que eu tinha que fazer era vivê-lo. E é assim. É o tudo ou nada. Ou me entrego à humanidade, à generosidade e à boa fé, ou viajar não faz sentido, nem seria possível nestas bandas. Entre isso e um Deus altamente que tenho aqui dentro de mim, tudo tem corrido bem. E quando não corre, é para ter a certeza que não me esqueço que nem tudo são rosas. Há que perceber quando é preciso dar um passo atrás antes de dar outro em frente.
E foi isso que fiz na última semana: mudei de ares! Tinha a Palestina e o conflito demasiado entranhado em mim, especialmente depois de mais uma experiência intensa da sua agressividade em Bilin, onde fui “assistir” à manifestação semanal contra a corrente construção do muro que separa terra roubada de terra ainda por roubar. Apesar de me mover com segurança e de já saber como as coisas funcionam, o perigo está sempre iminente. Cansa, mói, não dá para esquecer.
Mas em Israel é o contrário… Não dá é para lembrar. Passei uns dias tranquilos e com atividades civilizadas em Haifa, na costa norte, em casa de um soldado igual a qualquer rapaz na casa dos vintes. Com uma família adorável, uma cidade linda e um bom carro à porta, o conflito é quase humor negro, embora todos os israelitas tenham opiniões e argumentos fortes para defender a justiça do conflito. E é claro que com tantas medidas de segurança (como ser revistada na entrada para o cinema) estamos sempre conscientes da guerra, mas está distante… bem distante.
E então voltei a deixar o conforto e isolei-me por completo. Fui fazer uma caminhada de 60 quilómetros, que está planeada de acordo com os passos de Jesus na Bíblia, desde que cresce em Nazaré, até onde realiza os milagres e se estabiliza durante uns anos, à beira do Mar da Galileia. Carreguei apenas o absolutamente essencial e não planeei nada. O trilho está bem identificado e deixei as dormidas e as comidas para o improviso. Foi deslumbrante e divertido, mas também muito duro. Apanhei as primeiras chuvas do Inverno, portanto pés enterrados na lama foi o pão nosso de cada um dos 4 dias.
Sinto que estou cá há muito tempo e que a novidade está a acabar. Estou presa nas fronteiras desta bomba-relógio do tamanho da Madeira e entre dormir em colonatos com judeus ortodoxos, passar tempo com israelitas, ir aos confrontos palestinianos, ouvir muitas histórias de ambos os lados e endrominar militares, parece que já nada é território desconhecido. Até já dou uns toques em árabe e hebreu! Faltam agora duas semanas para ir passar o Natal a casa antes de partir para o derradeiro desafio pelas Américas, mas antes estou de volta à Palestina para concluir a minha pesquisa (em Jenin, a cidade dos terroristas) e terminarei com o sul de Israel: o deserto Negev e o Mar Vermelho!
Espreitem o blog bem recheado em www.semcostumes.blogspot.pt e, se este tema vos interessa, deixo-vos o trailler do documentário que fez um palestiniano famoso e vivo ao mesmo tempo, ao ganhar um Emmy em Dezembro de 2013: http://www.youtube.com/watch?v=XID_UuxiGxM.