Olhar a Medina de Fez a partir do Palais Amani é como olhar Nova Iorque a partir do Empire State Building.” A comparação é feita por Constantino Leite, fotógrafo que assina esta reportagem. Eventualmente, a inesperada afirmação poderia ser efeito secundário de grandes quantidades de chá de menta, ou consequência de uma qualquer característica sui generis das lentes da máquina fotográfica… Será?!
Estamos em Fez, no terraço-esplanada do Palais Amani. Cá em baixo, observamos o caos organizado por centenas de ruas protegidas por muralhas; estão as casas, os muros, as tendas, as muitas antenas parabólicas e as montanhas que envolvem tudo isto. A vista é inspiradora e mostra uma realidade que tem tanto de crua como de poética.
A mesma realidade que conquistou o quinteto “inglês-franco-marroquino”, John e Jennifer Talbot, Abdelali e Jemima Baha e Sonia Travier, que em 2006 comprou o edifício e em 2010 inaugurou o hotel.
Pertencente à mesma família desde 1928, estava desabitado há mais de três décadas. No mesmo ano em foi adquirido pela família que vivia de um negócio de tecidos houve um deslizamento de terra na Medina, responsável pela queda de vários edifícios que se alteavam na cidade velha. Esta casa demorou dois anos a reerguer, recorrendo a técnicas de construção modernas e novas linguagens estéticas, o que explica o “sentimento” art deco do Palais Amani, incomum quando comparado com os congéneres.
Retangular, tem ao centro um pátio aberto com fonte e verdes, confirmando que estamos num Riad. Portas adentro, reconhece-se a mesma veia marroquina que lateja no exterior: pelos mosaicos coloridos feitos à mão, pelo conforto resultante da simplicidade em detrimento da opulência, apesar do que possam sugerir os 100 metros quadrados da suite grande (é a n.º 12!) e o pé-direito generoso, que obriga a que se estique o pescoço para que se encontre o teto. Para se concluir que “o que é bom, é simples” contam os linhos bordados à mão, as toalhas “gordas” e farfalhudas, as dock station para iPod em cada quarto, os chinelos marroquinos, presente de boas-vindas para cada hóspede…
Conta a atenção concedida por quem acabou de nos conhecer e já sabe se gostamos de chá ou café ao pequeno-almoço; qual é a bebida que queremos antes do jantar… Marrocos recebe bem: com cuidados, com um sorriso, com comida que confirma o ditado “pela boca morre o peixe”. O restaurante do Palais Amani é liderado por um cozinheiro local como o são todos os colaboradores do hotel “formado” por um chefe francês; resultado: ingredientes marroquinos (frescos!), confeção marroquina de cariz tradicional com alguma técnica contemporânea.
A oferta hoteleira em Fez é grande, mas não haverá muitos Riads (turísticos) genuínos, uma vez que muitas das propostas hoteleiras são resultado da ligação de uma série de Riads, ou de Dar (casas).
O Palais Amani é uma peça única na Medina de Fez e essa será uma das grandes bandeiras. Aqui, sente-se a cidade velha. Com um “salto” dobra-se uma esquina e vê-se um burro a ocupar toda a rua; percorre-se uns quantos metros (não vale a pena contá-los!) e encontra-se uma ruína que afinal é mercado de vegetais…
E, a páginas tantas, os passos seguem o ritmo oferecido pelos homens que nas ruas trabalham o latão; o olhar fixa-se nos movimentos de um senhor que enfia um pau de madeira num torno, e com um formão e um dedo faz um pião de madeira…
Enquanto o pião gira, voltamos ao início, ao terraço do hotel. “Olhar a Medina de Fez do topo do Palais Amani é como olhar Nova Iorque do topo do Empire State Building.” A analogia faz sentido. Vistos de cima e apesar de todas as suas diferenças, evidentes tanto um lugar como o outro nos dão a sensação de conseguir abarcar o “mundo” de uma só vez com um único olhar.
5 motivos para visitar Fez, mesmo no inverno!
por Jemi ma Baha (uma das sócias do hotel)
1 Pela enorme riqueza cultural da Medina: é uma viagem no tempo até à época medieval; testemunhe a realidade de pessoas que vivem e trabalham da mesma maneira há séculos.
2 Tem a mais antiga universidade do mundo, com escolas (medrassas) e mesquitas dos sécs. VIII e IX
3 Fez fica bem longe do frio em tons cinzentos da Europa, no inverno. É raro vir a Fez e não aproveitar alguns raios de sol numa qualquer esplanada; mas mesmo que o ‘astro’ não dê o ar da sua graça, pode sempre render-se ao culto dos banhos quentes, massagens e tratamentos de beleza…
4 Fez não é apenas a capital espiritual de Marrocos, é também a capital das artes e ofícios. Tradições na cerâmica, metal, bordados, madeira e couro foram transmitidas através de várias gerações.
5 O número de festivais musicais e espirituais ao longo do ano e a diversidade de paisagens circundantes fazem de Fez um destino imperdível! Veja algumas propostas para 2012 em fesmusicfestival.com/fesfestival.com
Contacto
Palais Amani
-14 quartos (contando com suites), restaurante, Hammam tradicional, SPA, terraço esplanada com vista sobre a Medina.
-Inclui pequeno-almoço, de €150 a €595 (apartamento The Misriah, com capacidade para 4 adultos e 2 crianças até aos 12 anos)