01 – Conforto – Saídos do Turquemenistão, eis que nos vemos em Alat, uma pequena vila a 25 quilómetros da fronteira, brindados com um conforto que, apesar de não podermos afirmar maravilhoso, pelo menos bem diferente daquilo a que estávamos habituados na última semana. Duas camas dentro dum compartimento a que podemos chamar quarto, com uma janela para a rua principal e uma casa de banho comum. Às vezes, estes pequenos luxos sabem tão bem! 02 – Bukhara – A primeira grande cidade a que chegámos depois de entrarmos no Uzbequistão! O país tem, no seu território, as três cidades que são consideradas as pérolas da Ásia Central: Khiva, Bukhara e Samarkand. Bukhara é a cidade mais sagrada da Ásia Central – Bukhoro-i-sharif – o Pilar do Islão. Apesar dos seus mais de mil anos de história, todo o seu centro histórico parece ter sido constrúido somente uns cem anos atrás, tamanha é a recuperação empreendida pelo governo para a manutenção de todos os edifícios. O seu centro chegou a ter, no século XVI, mais de cem madrassas, onde estudavam mais de 10000 estudantes e trezentas mesquitas. Uma das cidades mais importantes da Rota da Seda, é hoje Património Mundial da UNESCO e, claro está, um chamariz para o turismo. 03 – Aniversário – Depois de tanto sofrimento na estrada, de tanto calor, de dormirmos mal e de nos alimentarmos mal, ficar 3 noites em Bukhara foi o maior presente que tive no meu aniversário! Tudo isto e claro, este bolo improvisado, um pouco deformado com o calor, mas que me soube maravilhosamente bem! Pode não ter o melhor aspecto, mas foi tudo preparado com o maior carinho pela Tanya! Sem esperar, já ela batia palmas, enquanto os proprietários do hostel se aproximavam cantando os parabéns em uzbeque! 04 – Refrigerantes – Um dos sistemas mais enginhosos que vimos por estes lados. Este, tem sabor a Coca-Cola, mas podemos encontrar também de laranja – ao qual eles chamam Fanta! – ou de kiwi, cereja e um ou outro sabor estranho que ainda não conseguimos decifrar o sabor. A mistura consiste numa espécie de sumo concentrado ao qual se acrescenta água gasificada fresca. Parar nas terreolas e ver alguém a vender estes pequenos refrigerantes, ainda para mais quando custam menos de 10 cêntimos, é um autêntico achado! 05 – Samarkand – É considerada a cidade mais bonita da Ásia Central. Chegar a Samarkand, é chegar a um local que inspirou poetas, escritores, grandes músicos, que tirou o fôlego a grandes guerreiros, como Alexandre O Grande, que foi motivo de disputa de grandes impérios, que viu passar as maiores caravanas com especiarias, chá, seda, papel e todo um rol de produtos no comércio entre o este e o oeste. Os grandes monumetos construídos por Timur fazem-nos brilhar os olhos, pasmam-nos a cada passagem, mesmo que por eles passemos mil vezes. As cúpulas azuis, o trabalho com mosaicos, os grandes mausoléus, as mesquitas, as madrassas,tudo nos surpreende! Chegar a Samarkand é impressionante e sair deixa-nos com uma vontade enorme de voltar em breve, o mais brevemente possível. 06 – Mausoléus – Timur fez de Samarkand a capital e o local onde toda a família, quando morreu, foi enterrada. Para ele, construiu um “discreto” masoléu em Shahrisabz, a sua terra de origem, mas aquando da sua morte, havia tanta neve na montanha a impossibilitar a passagem, que acabou por ser enterrado em Samarkand também, no Mausoléu que se pode ver na fotografia. Apesar de Samarkand ter como atracção principal a praça do Registan (onde existem as famosas três madrassas), para nós os monumentos mais bonitos e imponentes encontram-se a sul desta praça, no meio do cemitério municipal, naquele que os locais chamam a Avenida dos Mausoléus. O local mais sagrado é aquele que tem o corpo de Qusam ibn-Abbas, um primo do profeta Mohammed, conhecido como o resposável pela vinda do Islão para esta zona no século VII.
07 – Hostel – O Uzbequistão obriga, numa das suas leis, a que todos os turistas que visitem o país, façam um registo de 3 em 3 dias num hotel. Esta lei que não é cumprida pela maior parte dos cicloturistas que passam no país, devido à dificuldade que têm em estar numa cidade minimamente turística de 3 em 3 dias, é cumprida no entanto pela maior parte dos que visitam o país de mochila às costas. Na fronteira, apenas a 1% dos turistas é requerida a confirmação de estadia em hoteis. No entanto, se este 1% não as tiver, as multas podem chegar aos 1000 dólares!!! Para nós, de bicicleta, ficar nestes hosteis foi um luxo e um ponto de encontro com outros turistas, uma maneira de trocar experiências e de falar algum idioma que compreendêssemos! Luxo!
08 – Calor – Sei que, nas últimas fotogalerias, falamos imenso do calor, mas também isso só acontece porque este é…imenso! Na montanha que tivemos que passar, a 1700 metros, para chegar a Shahrisabz, a inclinação da estrada mudava entre os 10% e 14%, a temperatura atingia os 42º e por isso, na primeira “piscina” que apareceu, não hesitamos em mergulhar a nossa cabeça e parte do nosso corpo em tão refrescante fonte de água gelada! Lá nos banhámos, de lá bebemos e lá dentro nadaríamos se fosse possível! 09 – 8001kms – Os 8001 quilómetros de estrada foram alcançados em Shahrisabz, depois de uma noite acampados à beira rio. Como em todos os locais por onde passamos, a curiosidade dos locais é enorme e a primeira pergunta feita é sempre “At kuda?”, ou seja “De onde são?”. Se na maior parte das vezes respondemos “Portugallia”, como aconteceu com este simpático senhor, muitas vezes enquanto pedalamos, mandamos outros países para o ar, pois cansa-nos estar sempre a repetir a mesma coisa, pelo menos 98 vezes por dia. Os que mais usamos é Mongólia, Somália ou, algumas vezes, Burkina Faso! O curioso é que as pessoas nos fazem um sinal de “Fixe!”, com o polegar esticado!
10 – Shahrisabz – Shahrisabz é Património Mundial da Humanidade. Timur, um Dom Afonso Henriques para os uzbeques, era original desta ciadade e foi aqui que construiu também, depois de Samarkand, madrassas, mesquitas, mausoléus e outros monumentos, como este arco à frente do qual saltamos, que era o maior da Ásia central, com mais de 38 metros de altura! A cidade não é ponto de passagem do turismo, mas é um dos locais mais bonitos pelo qual já passámos neste país. Discreta, simples, com bazares cheios de gente e uma vida muito mais calma, longe dos grandes autocarros de 52 lugares, pode ser a maior surpresa do Uzbequistão! 11 – Descanso – Foi em Batosh (não tentem encontrar no mapa!) que que virámos numa estrada de terra batida, antes do sinal de entrada na localidade, ao encontro da família que nos havia de acolher nesta noite! A “técnica” é simples. Basta caminhar com as bicicletas, dando um pouco nas vistas (!), perguntar a alguém se podemos montar a nossa tenda no seu terreno e esperar 5 segundas pela resposta positiva! “Tenda? Não! Vão dormir ali mesmo, naquela cama/mesa, com colchões apropriados e almofada mas, antes disso, vão jantar e não vale a pena tirarem as vossas coisas dos sacos!” – ou os uzbeques sentem-se ofendidos! Come-se atése cair para o lado, bebe-se chá como nunca antes e no fim, todos se retiram para que possamos descansar! Claro que, no dia seguinte, às 5 da manhã, já todos estão a pépara nos servirem outra vez, antes de partirmos! “Voltem aqui, quando vierem para trás!” – dizem-nos na despedida!
12 – Rios – São poucos os que existem durante os meses de Verão. Os leitos de alguns são enormes, deixando-nos adivinhar o seu tamanho durante os poucos meses em que a chuva cai. Apesar de tudo, eles continuam, estreitos, entre as pequenas rochas e às vezes, um pouco de lixo, rumo a rios maiores ou aos poucos lagos também existentes. Quando na estrada avistamos um destes tesouros, rapidamente pousamos a bicicleta e descemos o mais depressa que pudemos e nos deitamos, disfrutando, por pouco tempo que seja, da frescura da sua água! É um prazer que não conseguimos explicar, apesar de vivermos à beira-mar e, para nós, banharmo-nos em rios, lagos e oceanos ser uma coisa banal! 13 – Acidente – As estradas são péssimas, porém, quando passamos às vezes mais de duas horas com 40º em cima a subir montanha acima, suando, vendo toda a nossa energia ser dispensada, e não ter uma ponta de vento, as consequências da alta velocidade na descida nunca, nunca é pensada. Numa destas descidas, a mais de 40km/h, uns buracos eram bem maiores que outros e os travões não podem fazer tudo. Perdi o controlo, despistei-me e quando olhei para trás, o meu atrelado saltava da bicicleta para uma série de piruetas, até parar, um pouco “lesionado”, uns metros abaixo. Felizmente não caí e retirando as peças partidas, a viagem pôde continuar! 14 – Encontro – Enquanto descansávamos por debaixo de umas árvores, em frente a um hospital, numa terra da qual não me lembro do nome, vemos passar um casal de cicloturistas. Logo lançámos um grito e 2 minutos depois, já fazíamos um grande piquenique, trocávamos planos de viagem e riamo-nos de situações passadas. Continuámos com o Sam e a Francesca, um casal inglês, durante mais 4 dias de viagem, partilhando as conversas, as refeições, os momentos de cansaço e o calor abrasador nas montanhas do Uzbequistão! Uma experiência nova para nós,mas que gostaríamos de repetir em breve, com outros viajantes de bicicleta! 15 – Mundo Feminino– Mesmo em viagem, o mundo feminino vence! Tem que ser, écomplicado, mas há coisas com as quais não se vive bem e pêlos é uma delas. À falta de locais para se tratar da nossa intimidade, e quando se passa 6 dias na estrada, sem duche, sem um sítio para dormir, sem casa de banho, sem lugar para lavar a roupa, sem um tecto, resumindo, desenrasca-se onde se pode! Foi ali mesmo, no mesmo leito de outro rio onde parámos para mais um mergulho, que tudo ficou feito! Depilação, banho e avante, que a estrada espera por nós! Alguns olhares curiosos, mas nada de preocupante! 16 – Coca-Cola – Temos que admitir, é o terror de todos os cicloturistas com quem conversamos e chama-se Coca-Cola. Esta bebida, que raramente bebemos quando estamos em Portugal, é a única que nos vem à cabeça depois de uns 40 quilómetros de percurso. O calor é tanto, a água nas nossas bicicletas chega a quase ferver e os rios não são suficientes para nos descer a temperatura. A nossa cabeça, inconscientemente, só pensa naquela bebida gasosa, escura e americana que, apesar de tentarmos evitar, é-nos impossível. Vemo-nos então a saltar de mini mercado em minimercado, de caféem café à procura de tal líquido. “Temos RC Cola, Spur Cola, Uzbek Cola, Pepsi…” mas não, não servem, tem de ser mesmo Coca-Cola. Pensávamos que estávamos a ficar doidos, até encontrarmos outros viajantes de bicicleta que desesperam exactamente com o mesmo! Afinal não estamos senis!