Mapeador de Ilhas
O observatório
Não se engane, senhor padre: o senhor também trabalha nos subterrâneos. Aliás, não há neste mundo trabalho que não seja de mineiro, seja ele executado por cima ou por baixo da terra
Mia CoutoO apeadeiro
Foi fazendo perguntas e anotando com letra de imprensa nos lugares certos do papel. – Agora, Gondaluai escreve-se com “w” – comentou o inspetor sem erguer a cabeça. – Africanizaram o teu apeadeiro. – Depois, já num outro tom: – Estás a cuidar bem daquela estação? Tens de manter aquilo direitinho. Aquilo é património do Estado
Mia CoutoUma história quase infantil
Nessa noite, se o pai estivesse acordado, teria visto o seu filho e o seu amigo país a aproximarem-se do aparelho de televisão e a entrarem, um após o outro, no ecrã de plasma. Desapareceram como se fossem luzes engolidas pelo ávido retângulo negro
Mia CoutoO filho perpétuo
A guerra carregou as pessoas, os seus próprios filhos desapareceram como se fossem ondas, nuvens, plumas sem peso. A guerra é um mar que se afoga sozinho. Foi pelo regresso do mar que Baraza pediu a Deus pelo dia de hoje
Mia CoutoO vestido vermelho
Na minha aldeia há um ditado: uma mulher que enfrenta sozinha a estrada é uma mulher que está despida. Os homens estão autorizados a fazer com ela o que quiserem. Essa mulher pede para ser castigada. E foi sob o presságio da punição que caminhei pela estrada deserta. Da areia que pisava soltava-se um fumo de miragem. Caminhei até o sol me engolir a sombra
Mia Couto