Há água fria. A cair de cima, em versão chuva miudinha, a vir de todo o lado, em versão salpicos, a vir em versão “chapão”, de frente. Está feito o primeiro contacto com o mar da Nazaré, em pleno canhão.
Mas comece-se pelo princípio.
“Assim ficam com a experiência toda da Nazaré”, brincou Nic Von Rupp no curto briefing, em terra, aos jornalistas e convidados. Mas a verdade é que ninguém estava, ou parecia, pelo menos, preocupado com a chuva que, no nosso caso, nos acompanhou persistentemente desde a redação até à Nazaré. A ideia era mesmo ir para dentro de água.
A pergunta ia-se repetindo, ainda em terra e depois no barco onde fomos levados até ao outside: “Quanto é que está hoje?” “Está pequeno, uns dois metros”.
Das ondas gigantes que lhe deram fama, daquelas paredes de água do tamanho de prédios de 10 andares, nem sinal. Mas mesmo com ondas pequenas (dois metros na Costa da Caparica é um marzão, na Nazaré é mar pequeno) estar no canhão da Nazaré, a andar num jetski guiado por um dos maiores nomes do surf nacional é uma experiência inesquecível.
“Tenham só cuidado com as cabeças”, recomendou Nicolau, 29 anos, que ainda este mês foi distinguido pela “Onda da Temporada” nos prémios Ondas XXL EDP Mar Sem Fim, embora nós, esta jornalista e o André Moreira, que se deu ao luxo de se desagarrar várias vezes para ajeitar a GoPro que levava presa à testa em nome da arte – façanha que resultou nas partes de cortar a respiração deste vídeo, a essa altura, já tivessemos percebido que cada vez que o jetski “aterrava” na água o corpo reage com alguma violência… É que, minutos antes, Nic tinha-nos feito uma pergunta simples: “Querem saltos?” Podia haver dúvidas? Os saltos, neste caso, correspondem a uma suicida investida em direção às ondas, que faz o jetski voar vários metros, a uma altura inimaginável, num voo que dura largos minutos, antes de embatermos com toda a violência de novo na água. Estou a exagerar para efeitos dramáticos, claro. Mas tirando os adjetivos todos, a narrativa é mesmo esta: um voo, só que de apenas alguns segundos, em que falta o ar e a adrenalina atinge níveis daqueles que ou nos deixam em silêncio por ficarmos sem reação ou nos fazem soltar gritos histéricos. Esta equipa apostou na segunda hipótese e seguiu a mesma receita quando o nosso condutor ainda nos fez descer um bocadinho de uma onda.
Esta que vos escreve é uma bodyboarder semi-reformada, e tenho de confessar que se um mar gigante (ou grande) na Nazaré não me daria qualquer vontade de pegar numa prancha, na relativa segurança de uma mota de água tive muita vontade de uma de duas coisas: ou ter uma parede das tais ali à minha frente, só para me pasmar, como sempre, com a coragem destes loucos (os surfistas e as equipas de segurança), ou, em alternativa, saltar mesmo para dentro de água e fazer uma onda daquelas “pequeninas”, na escala nazarena. Assim como assim, os wipeouts acontecem em qualquer onda, de qualquer praia, a qualquer surfista. Mas cair por cair, pelo menos que seja uma vez na Nazaré…