Pedro Pimenta delineou um plano: percorrer toda a costa portuguesa a pé, de Monção a Vila Real de Santo António. São 940 quilómetros, que dividiu em 16 etapas, para cumprir até fevereiro de 2020, um fim de semana por mês (em junho, mês de feriados, haverá três). O ponto onde terminou a etapa anterior é sempre o ponto de partida da seguinte para todos os que o querem acompanhar.
Funcionário público, Pedro Pimenta, de 52 anos, é já um veterano das caminhadas – durante mais de uma década, liderou a secção de Pedestrianismo do Clube de Lazer, Aventura e Competição (CLAC) do Entroncamento, onde reside. Num registo informal, de impressões e pensamentos soltos, partilha agora, no site da VISÃO, uma espécie de diário desta aventura pela costa, ao mesmo tempo que nos brinda com belas fotografias e vídeos dos locais por onde passa (também os pode ver no site do projeto Costa a Pé).
Este é o relato da quarta etapa, entre Aveiro e a Nazaré, realizada entre 25 e 28 de abril.
Quarta-feira, 24: Aveiro, cidade linda e doce
Chego de comboio a Aveiro, na véspera da etapa-rainha, pois tinha combinado encontrar-me com um casal amigo. Passeamos, conversamos e dá para provar um doce típico: Tripa de ovos moles. De vez em quanto, cai granizo – e eu de calções. É muito agradável andar a conhecer um pouco desta linda cidade e ouvir algumas histórias sobre Aveiro contadas pelo meu mais antigo amigo, Rui Vaz. O tempo passa a correr.
Vamos esperar os Antónios, o Carvalho e o Gonçalves, à estação. Vêm no mesmo comboio. Ao jantar, acertamos a estratégia, aproveitando o facto de termos um carro que levaria as coisas mais pesadas para o fim de cada etapa. Vamos poder andar um pouco mais depressa e mais leves.
Ficamos muito bem instalados, num bungalow espetacular do Parque da Barra. Durante a noite, ouve-se o granizo misturado com chuva forte e rajadas de vento. Mau sinal para amanhã.
Despesas: Transporte – €15,20; Jantar – €13; Dormida – €80€ (3 pessoas)
Quita-feira, 25: Aveiro – Praia da Tocha, 40 kms
Chegamos à quarta etapa deste projeto, a maior: 150 quilómetros em quatro dias. Acordo às 5h30 para ter algum tempo extra e dividir as coisas por duas mochilas, a maior com tudo e uma mais pequena com o essencial para ter autonomia ao longo deste dia. Já todos acordados, o Carvalho, eu e o Gonçalves, aguardamos para iniciar a caminhada num intervalo de nuvens negras, sem chuva. O Rui e a esposa, a Fernanda, que moram perto, iriam mais tarde buscar as nossas mochilas para as levar até ao Parque da Tocha.
Vamos diretos à foz da Ria de Aveiro e paramos para apreciar o farol da Barra, o mais alto de Portugal e um dos mais altos do mundo. O tempo está agreste e, no mar, as ondas nem chegam a enrolar. Passamos para o lado da Ria e caminhamos pela ciclovia da Costa Nova. Tira casaco, põe casado, a chuva e o granizo fazem-nos encolher e prosseguir. Os carros passam por nós com muito cuidado, por causa das poças. O Carvalho leva um poncho e eu mais o Gonçalves um corta vento. Olhamos para o céu, na tentativa de contornar as negras nuvens, às vezes com êxito.
A cadência da chuva vai diminuindo, e o sol enchoçando a roupa e secando o terreno. Horas mais tarde aparecerá o nosso veículo, com o Rui a perguntar se precisamos de alguma coisa, mas segue tudo bem. Sempre pela estrada, até um pouco depois da Vagueira, e finalmente pés na terra. Agora é o Vento. Depois do caminho de terra, vem o areal. Junto ao mar, a areia tocada a vento tranforma-se numa espécie de agulhas e entra em todo lado. Parece que estamos a ser literalmente varridos.
Ao almoço, comemos uma sopa na Praia de Mira e preparamo-nos para um dos troços mais áridos até agora percorridos. Vamos juntos e a brincar com o Gonçalves, por estar sempre a vestir e a despir o casaco. Entramos num caminho muito duro e de difícil progressão. Areia e mais areia, com alguns desvios. Trilhos feitos por veículos 4×4. Levo umas plainas para estas ocasiões, valem ouro. O Carvalho vai de botas e o Gonçalves de sapatilhas que com o peso dele nem se enterram.
Caminhamos agora com alguma distância entre nós, o da frente encontra o melhor caminho e os outros vão atrás. As conversas não surgem com fluidez, ao contrário do que muita gente pensa. Quando temos grandes distâncias a percorrer e enfrentamos dificuldades, reina o silêncio. Só a visão trabalha, o diálogo é interior. De vez em vez, lá se ouvem uma ou duas palavras, a quebrar a monotonia. Tentamos colocar o pé em terreno o mais firme possível, serpenteando em volta do trilho dos jipes. O GPS nestas circunstâncias é uma grande ajuda, pois estamos noutro mundo. Os bastões dão jeito para equilibrar, subir e descer pequenos morros com pequenos arbustos e raízes.
Etapa difícil, a bom ritmo. Por vezes olhamos para trás para nos controlarmos uns aos outros. Depois de tantos quilómetros juntos, já nos conhecemos. Basta um olhar para sabermos se está tudo bem. Não é para qualquer um: 17 kms em areia, com mochila às costas, a uma média superior a 4 km/h. O cérebro é magnífico: desliga as partes do corpo doridas e foca-se no objetivo de chegar ao fim rapidamente.
Mesmo no fim deste troço, já com a Praia da Tocha à vista, vem uma nuvem e descarrega sobre nós toda a raiva, como se nos quisesse pôr à prova. Um teste de sobrevivência e um banho de água fria. Chegamos que nem uns pintos ao Parque de Campismo da Tocha, satisfeitos de estarmos bem fisicamente. Pensamos sempre como ficamos para o dia seguinte.
Lá estão as nossas mochilas, que o Rui e a Fernanda tinham transportado. Antes do banho, uma cerveja para aliviar o calor interior. Ficamos bem instalados, à-vontade, uma vez que que estamos na época baixa. Depois do banho, vamos jantar. Acertamos no restaurante: preço e qualidade muito bons. Entre bifes e chocos com vinho da casa, saímos super satisfeitos. O corpo, dorido, pede cama. Porque é na cama que ele revigoriza. E amanhã há mais areia…
Despesas: Almoço – €4,6; Jantar – €17,30; Dormida – €64 (3 pessoas)
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Sexta-feira, 26: Praia da Tocha – Figueira da Foz, 29 kms
Preparadíssimo para mais um dia à beira-mar. Às 6h30 já ando no parque a despejar o lixo e a olhar para o céu azul, o Sol a espreitar. O meu pequeno-almoço, leite com cereais, já está a funcionar. O corpo está ótimo. Deu para descansar e ainda por cima numa cama de casal – foi mesmo dormir de perna aberta.
Dou um toque na porta onde estão o Carvalho e o Gonçalves, ainda em cuecas e sem pressa. Hoje a etapa é mais curta. Vamos tentar aproveitar para chegar cedo e descansar. Mochilas às costas, lá avançamos pela avenida principal à procura de um café. Tudo fechado. Seguimos para mais uma jornada de areia, 14 quilómetros com dunas e paisagens paradisíacas. Flora característica exposta à erosão do mar e ao vento, uma imagem espetacular, um pequeno deserto.
Com mato rasteiro, vamos caminhando ritmados, mas sempre a atalhar para evitar o trilho dos jipes. Ao fundo, bem ao fundo, a Serra da Boa Viagem. Só paramos para as necessidades mais básicas. De resto, solidão, silêncio. Uma compenetração que nos reboca até ao infinito. Estados de espírito que se ganham e fazem-nos perder a noção do tempo. Interrompo para perguntar ao Carvalho se tinha explicação para o facto de muitas pessoas não fazerem estas caminhadas de grandes distâncias. Nem o deixo responder. Respondo eu: “Porque muitas não sabiam estar caladas.” Rimos os três.
O calor vai dando um sinal da sua graça. Serpentemos pelas bermas do caminho sem parar. Reparamos em algumas garrafas de plástico, e estranhomos a sua presença num local tão hostil. Mais tarde, o Rui há de explicar-nos que é o mar a trazê-las e o vento a empurrá-las mais para o interior. Realmente, o plástico é viral e epidémico.
Já ao fim da manhã, chegamos à praia de Quiaios. Esperamos encontrar algo aberto para pedirmos umas bebidas e comermos qualquer coisa de substancial, que levamos connosco. Esta é uma zona sazonal, o que quer dizer que está deserta nesta altura do ano. Enfim, encontramos uma pizaria com pessoal muito simpático, que nos deixam abancar. Hora de descanso e pés no ar.
Sabe bem estar sentado, mesmo que, depois, o levantar demore mais algum tempo. O Rui e a Fernanda juntam-se a nós e falamos com o dono sobre a região ter sido devastada pela tempestade Leslie. Ele conta que foi terrível, com árvores e telhados pelo ar. Felizmente, ninguém se magoou. Estamos tão bem, que ficaria por ali a apanhar sol. Uma das características de um caminheiro de longa distância é a disciplina. É saber ouvir, ser ponderado e despreocupado, porque o resto vem.
Está na hora de iniciarmos a travessia da Serra da Boa Viagem, pelo Cabo Mondego. Subida íngreme, em asfalto que dura pouco. Ao olharmos para trás, observamos as dunas já percorridas, a perder de vista. Brutal. Sem palavras. Por onde nos levam as nossas pernas…
Caminhamos para atravessar a já encerrada (desde 2013) pedreira da fábrica da Cimpor, no Cabo Mondego. Paisagem lunar. Surreais os cortes na Serra da Boa Viagem, a primeira serra do projeto Costa a Pé. Descemos por um trilho antigo, com alguma calçada polida, o local onde é preciso mais cuidado devido ao balanço das mochilas. No portão principal da fábrica, estamos quase ao nível do mar.
As vistas são lindas, ao longo da praia de Buarcos até à Figueira. Um extenso areal de difícil manutenção, onde as pessoas passeiam em família. De salientar a arquitetura de alguns nobres edifícios, outros nem tanto. Vestígios de fainas, de uma época que já lá vai. Com o GPS na mão, sigo na frente, desejoso de dar com o hotel. Não acerto à primeira. Telefono ao Rui, que já lá tinha ido deixar as mochilas. Ele e a Fernanda ficam connosco esta noite.
Chegamos cedo. Dá para fazer uma sesta antes de tomar banho. Quarto para três, boas condições e uma bela cama. Saímos para jantar pelas 19 horas. Conversamos sobre a costa marítima, a poluição que o mar devolve à terra, da falta de uma política ambiental, de recursos naturais. Isto porque o Rui está por dentro desta matéria e somos todos sensíveis à falta de vigilância e de cuidado. Ficamos na dúvida se realmente devemos partilhar locais menos conhecidos ou escondê-los e preservá-los. A noite cai, e dormimos como bébés.
Despesas: Almoço – €6; Jantar – €11,20; Dormida – €45 (3 pessoas)
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Sábado, 27: Figueira da Foz – Pedrógão, 39 kms
Com um dia espetacular e com uma nova companhia, a Fernanda, caminhamos em direção ao mar. Numa pastelaria da marginal, tomamos o pequeno-almoço reforçado, porque não sabíamos o que nos esperava.
A Fernanda está ansiosa por passar a ponte Edgar Cardoso, sobre o Mondego. Tinha ali passado uma vez, em peregrinação até Fátima, e o cansaço não a deixara apreciar a beleza. Com o sol de frente, esquecemos o estado do tempo dos dias anteriores. Passamos na estação de comboios e começamos a subir em direção a ponte, rumo à margem sul. É sempre engraçado atravessar uma ponte. A altura, a vibração, o vento, o movimento. Local ideal para tirar umas fotos a nós e à vista espetacular sobre o Mondego e a cidade.
Pela frente, uma extensa praia a percorrer. Começamos próximos uns dos outros, mas com o tempo afastamo-nos, cada um ao seu ritmo.
É brutal olhar para norte e para sul e só ver praia. Areia e mar. Sensação de liberdade, de sermos os únicos habitantes de um local longínquo. Só a água do mar nos faz correr. Aproveitamos sempre a areia mais dura, com o risco de molhar os pés. A Fernanda vai de alma solta, a brincar na areia de braços abertos. Engraçado haver pessoas que, depois de grandes marés, vão ver o que o mar traz para terra. Traz muita coisa. Madeiras, bóias, pedras, redes, garrafas de plástico…
Quando chegamos à Costa de Lavos, surpreende-nos o silêncio e a degradação das casas e dos barcos de pesca, o preço a pagar por estarem muito perto do mar. Na marginal – há sempre uma marginal -, lá está o Rui, com o seu jipe, à nossa espera e principalmente à espera da Fernanda, que ia ficar por aqui. Não demoramos.
Seguimos mais uma vez pela praia, aproveitando a maré baixa. Voltamos a ser três, com uma imensidão de areia à nossa volta. Quando tudo parece igual, há sempre algo que nos fascina. É o caso de bandos de pequenos pássaros a comerem pequenos bichos que a água do mar faz aparecer. Curiosamente, não se assustam com a nossa presença. Digno de um programa do National Geographic.
A hora do almoço aproxima-se rapidamente, assim como nós nos aproximamos de Leirosa, onde nos espera um belo petisco preparado pelo Rui e a Fernanda. À chegada, procuro um sítio para descansarmos sentados, e nada melhor do que uma pastelaria, uma das poucas lojas abertas. Peço autorização para nos sentarmos na esplanada, consumindo algumas cervejas. Muito simpático, o gerente do estabelecimento diz logo que sim.
Cervejas, pão, vinho, chouriço e queijo. Todos nos olham, talvez com inveja de tal manjar. Até o dono da pastelaria se junta a nós. Ele também já tinha feito algumas caminhadas até Fátima e simpatiza com o desafio a que nos propusemos. Estamos ótimos e sem perder o norte, pois o norte fica para de trás das costas.
Espera-nos mais um trilho de areia complicado, com muitos cruzamentos, a exigir muito do GPS. Dunas e mais dunas. Alguns elásticos nas pernas dão sinal do esforço, mas os pés estão bem. Voltamos à praia para fugir às dunas, muito irregulares, e acabar a etapa na areia mais firme junto ao fresco do mar. Mais uma hora e estamos em Pedrogão. Que bem nos sabe. Como é sábado, há muita gente a circular na rua. Encostamos num bar para beber umas imperiais, antes da chegada ao parque de campismo, ansiosos por um banho.
Ficamos num bungalow cinco estrelas, um autêntico apartamento (mini). Ao perguntarmos como poderíamos encomendar o jantar, perguntam-nos o que queremos, para surpresa nossa. Penso em chocos, mas vamos para os bifes de peru. Ainda conseguimos descansar um pouco antes de comermos. Toca o telefone. São uns caminheiros que querem cumprimentar-me pessoalmente. Encontramo-nos à entrada do parque e é uma festa. Conversamos um pouco sobre caminhadas e dão dicas para o caminho do dia seguinte.
O Carvalho e o Gonçalves esperam-me no restaurante. O jantar está delicioso, a um preço que já não se usa, e ainda contamos com a simpatia dos empregados. Excelente escolha a nossa. Vamos dormir pouco passa das 22h, que a saída é às seis da manhã para um dia que pode tornar-se complicado.
Despesas: Almoço €5; Jantar – €7,5; Dormida – €50 (3 pessoas)
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Domingo, 28: Pedrogão – Nazaré, 43 kms
Nevoeiro de madrugada. Estamos os três em ótimas condições fisicas e preparados para o que der e vier. Iniciamos pela ciclovia, sempre encostados ao Pinhal de Leiria. O nevoeiro retira a perspetiva das retas que temos pela frente. Desta vez, o piso é mais duro e a rota mais silenciosa. Pessoalmente, gosto de ir atrás, porque me dá uma visão mais periférica.
Uma hora depois de arrancarmos, estamos na praia da Vieira à procura de um café. Tudo fechado. Muito cedo para um domingo. O Gonçalves decide dar uma volta pelo centro da terra e descobre uma esplanada impecável, com bom atendimento. Um achado.
De volta à ciclovia, ainda bem que não se vê o horizonte. São quilómetros atrás de quilómetros sempre a direito, sempre igual. O pinhal, vítima de incêndios e tempestades, está destroçado. É de partir o coração ver tudo queimado. Imagino as temperaturas que ali estiveram. Um crime. Nota-se que o andam a limpar e a arrumar os troncos. Os últimos temporais fizeram com que as árvores mais débeis caíssem por terra, e não foram poucas. O Carvalho e o Gonçalves, uns 100 metros à minha frente, também seguem desolados com tão negra paisagem. De vez em quando, passam uns ciclistas que cortam o silêncio de morte. Não há palavras para descrever tanto negrume.
A reta continua e o ritmo sempre certo e descontraído. Algumas horas depois, estamos junto do mar, sobre passadiços. O movimento aumenta, já é domingo de manhã. Mais pessoas a praticarem exercício. As ondas batem com força nas rochas, o barulho é-me familiar. Fazemos um pouco de sobe e desce para visitarmos algumas praias. Mais à frente, os passadiços estão mais degradados e perigosos. Definitivamente, muito mais pessoas a circular, até dá gosto.
Estamos em São Pedro de Moel, belo local para um almoço ligeiro. O Carvalho, o Gonçalves e eu já estamos com apetite. Na aldeia, encontramos um sítio muito simpático e até bairrista. No fim, desejam-nos boa viagem. Acham a ideia de fazer a costa a pé genial.
Daqui para a frente, começam os caminhos variados, no topo das arribas, subidas inclinadas, ora em asfalto, ora em estradões… Uma panóplia de caminhos aos quais temos de nos adaptar. A passagem pela praia de Paredes de Vitória é uma loucura. Tanta gente que se torna estranho andarmos a desviar-nos das pessoas para não batermos nelas. O GPS é fundamental, mas às vezes lá aparece uma vedação ou outra para nos trocar as voltas.
Pequenas subidas íngremes desgastam-nos. Alguma beleza desapareceu. Há mais relevo e zonas verdes no trilho demarcado. A caminhada leva bom andamento e faz calor. Na ciclovia, mais se sente. Com o parque eólico à vista, cresce a esperança de estarmos perto do destino. Passam cicloturistas estrangeiros, em direção a norte.
O nosso caminho é feito de probabilidades, de desafios, de erros e adaptações, de decisões rápidas. Não nos podemos dar ao luxo de grandes enganos, porque o resultado são horas perdidas. Num vale, ao encontrarmos uma vedação, decidimos ir pela praia até ao Sítio. Areia grossa de pouca consistência, uma tortura. As minhas plainas rompem-se e, aos poucos, as sapatilhas enchem-se de areia.
Seguimos um pouco afastados, mas alinhados, eu mais junto ao mar, o Gonçalves no meio e o Carvalho no interior, mais perto das falsésias. Estamos perto. O meu braço direito arde, da exposição ao sol. Lento e difícil este final da etapa. A boca começa a ficar mais seca do que normal, mas tenho de tentear a água. Um pacote de sumo que trago na mochila ajuda-me a hidratar. Finalmente, a praia do Norte. Depois é subir até ao Sítio. Juntos, passo a passo, com muita calma. É com alguma dificuldade que atingimos o topo do quarto dia. Prioridade: ingerir algo doce para manter os níveis metabólicos.
Também não podia faltar a foto de família, tirada por um brasileiro a quase dois quilómetros de distância. Mas a do Sítio para a Nazaré ficaria boa. Por telefone, sabemos que o Rui e a Fernanda estão desesperados à nossa espera, com o carro (e as mochilas) num parque de estacionamento de um hipermercado. Os meus pais também aguardam na Nazaré, para me darem boleia até casa e levarem o Gonçalves até ao Entroncamento. O Carvalho há de apanhar o expresso para Lisboa.
Resta-nos descer desde o Sítio. E quem disse que descer escadas não custa? Docemente, que estamos já a queimar os 43 quilómetros de caminhada. No fim, fazemos a festa. Uma prova de resistência, ao longo de quarto dias, em que estivemos bem fisicamente. Acho que foi do agrado do Carvalho e do Gonçalves, pois estão com ótimo aspeto. Agradeço ao Rui Leal Vaz e à Fernanda Aguiar a disponibilidade para nos acompanhar e ajudar a transportar as mochilas mais pesadas. Um bem-haja para eles. Ao Carvalho e ao Gonçalves, que espetaculares grandes caminheiros!
Despesas: Almoço – €12
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As 16 etapas do projeto Costa a Pé
1) 26 e 27 de janeiro: Monção – Caminha – Viana do Castelo, 47 + 27 kms
2) 23 e 24 de fevereiro: Viana do Castelo – Póvoa de Varzim – Porto, 53 + 42 kms
3) 23 e 24 de março: Porto – Ovar – Aveiro, 44 + 38 kms
4) 25, 26, 27 e 28 de abril: Aveiro – Tocha – Figueira da Foz – Pedrógão – Nazaré, 47 + 38 + 38 + 45 kms
5) 25 e 26 de maio: Nazaré – Peniche – Ribamar, 51 + 36 kms
6) 8, 9 e 10 de junho: Ribamar – Ericeira – Almoçageme – Cascais, 36 + 27 + 27 kms
7) 13 de junho: Cascais – Lisboa, 33 kms
8) 22 e 23 de junho: Trafaria – Meco – Sesimbra, 30 + 25 kms
9) 20 e 21 de julho: Sesimbra – Setúbal – Comporta, 30 + 28 kms
10) 24 e 25 de agosto: Comporta – Santo André – Porto Covo, 36 + 34 kms
11) 21 e 22 de setembro: Porto Covo – Almograve – Odeceixe, 35 + 37 kms
12) 26 e 27 de outubro: Odeceixe – Chabouco – Vila do Bispo, 35 + 31 kms
13) 23 e 24 de novembro: Vila do Bispo – Sagres – Lagos, 33 + 37 kms
14) 28 e 29 de dezembro: Lagos – Portimão – Armação de Pêra, 28 + 27 kms
15) 25 e 26 de janeiro de 2020: Armação de Pêra – Quarteira – Olhão 31 + 35 kms
16) 23 e 24 de fevereiro de 2020: Olhão – Cabanas – Vila Real de Santo António 35 + 25 kms