Conflitos mais prolongados, combates em zonas urbanas entre a população civil e o total desrespeito pelas normas internacionais são algumas das razões que o documento da organização não governamental Save The Children aponta para o aumento brutal do número de crianças em perigo. O relatório Stop the War on Children: Protecting Children in 21st Century Conflict, relativo ao ano de 2017, diz que há 420 milhões de crianças a viverem em zonas de conflito armado, mais 30 milhões do que no ano anterior.
– Este número (420 milhões) representa o dobro desde o fim da Guerra Fria
– Em zonas de conflito intenso (com mais de mil mortos num ano) vivem 142 milhões de crianças
– Centenas de milhares de miúdos morrem todos os anos devido a causas relacionadas com a guerra – subnutrição, doenças ou falta de água e condições sanitárias
O relatório define como crianças em risco aquelas que vivem a 50 ou menos quilómetros onde aconteceram um ou mais conflitos num ano.
“Todos os dias, são atacadas crianças porque os grupos armados e as forças militares desrespeitam as leis e os tratados internacionais. Desde a utilização de armas químicas às violações como arma de guerra, há crimes de guerra a serem cometidos impunemente”, refere Carolyn Miles, presidente e CEO da Save the Children.
“É chocante que em pleno séc. XXI se esteja a retroceder em princípios e padrões morais tão simples – crianças e civis nunca deveriam ser alvo de ataques”, acrescenta.
Os dez países onde as crianças foram mais afetadas pela guerra, em 2017, são o Afeganistão, Iémen, Sudão do Sul, República Centro Africana, República Democrática do Congo, Síria, Iraque, Mali, Nigéria e Somália.
“Muitos de nós perdemos os nossos pais,
irmãos, irmãs e vizinhos.
Somos forçados a trabalhar, a pedir ou até matar
para sobreviver.
Casamos ainda crianças e damos à luz
outras ciranças.
Fomos torturados, raptados,
violados e silenciados.
Sentimos raiva, indignação e tristeza.
Vamos para a cama com fome.
Alguns de nós não acordam.
O nosso presente e futuro foi posto em espera.
Não silenciem os nossos sonhos e palavras.
…
O nosso futuro está em risco.
Exigimos que ajam agora.”
Algumas das mensagens de crianças do Mali, Sudão, Colômbia, Iémen e Síria recolhidas durante a elaboração do relatório da Save The Children
Um dos capítulos do trabalho é dedicado às graves violações cometidas contra as crianças com base nos números da ONU. As seis violações graves da ONU incluem: ser morto, mutilado, recrutado por grupos armados ou sequestrado, violência sexual, ataques a escolas e negação de ajuda humanitária. Os dados mostram que essas violações aumentaram de 10 mil em 2010 para mais de 25 mil em 2017 – o número mais alto de sempre.
A Save The Children inclui 20 recomendações aos governos e agências para protegerem as crianças durante os conflitos armados, como melhorar a transparência na venda de armas, apoiar uma declaração política sobre o uso de explosivos ou bombas em áreas povoadas ou assegurar que as crianças forçadas a deixar as suas casas tenham rapidamente acesso à educação.