Há um facto consensual tanto para os apoiantes como para os detratores do projeto político, económico e social que, nas últimas seis décadas, foi um exemplo para o mundo na preservação da paz e na difusão do progresso: a União Europeia vive, atualmente, o momento mais difícil da sua História e aquele que, de uma forma ou de outra, poderá decidir o seu futuro. Há uma série de fatores que justificam esta espécie de estado de emergência em que se encontra o processo de construção de uma Europa unida, livre, democrática e aberta ao mundo. Uns são externos, relacionados com a geopolítica mundial e a emergência de novas potências; outros têm causas internas, ainda intimamente ligadas aos erros cometidos durante o período da crise financeira, que criaram fraturas profundas entre países e, acima de tudo, clivagens insuperáveis entre eleitos e eleitores – e que foram, ainda, mais amplificadas com a crise migratória e com os sentimentos de raiva aproveitados e espalhados pelos movimentos populistas.
Os sinais de perigo avolumam-se: a economia europeia abrandou, as desigualdades aumentaram, diminuiu o espírito de solidariedade entre países. Em simultâneo, os ideais democráticos fundados na Europa e o multiculturalismo mostram-se em regressão, um pouco por todo o lado, num tempo dominado por líderes nacionalistas em Washington, Pequim e Moscovo, com desejos de domínio global. Numa economia marcada pelas novas tecnologias, a presença da Europa no mundo está também a ficar cada vez mais na sombra da China e dos Estados Unidos da América.
Todos estes cenários fazem aumentar as incertezas e são aproveitados, agora às claras, por quem sempre quis destruir o sonho europeu e a ideia de um continente unido pelos mesmos propósitos de garantir a paz, promover o desenvolvimento económico, reforçar a democracia e estimular a coesão social. No fundo, os valores que, ao longo de décadas, fizeram com que as populações quisessem aderir genuinamente à União Europeia.
É nestes momentos decisivos que a informação é mais precisa, que o debate aberto e livre de ideias é mais urgente, que o acesso a diferentes pontos de vista deve ser mais acarinhado. Este primeiro número da VISÃO Saber – uma nova marca da newsmagazine mais lida do País, destinada a abordar temas, em profundidade e em pluralidade, sempre que a atualidade o justifique, mas sem uma periodicidade regular – pretende ser um contributo para o debate necessário e urgente sobre a realidade europeia e o futuro da União. Esta é uma edição feita em parceria com a revista Courrier Internacional que, mensalmente, publica uma seleção de artigos da melhor Imprensa internacional e que nos permitiu, nesta revista, reunir uma série de olhares diferentes sobre os desafios e as soluções para a União Europeia. Esta edição contou também com o contributo e a colaboração da revista Exame, em vários artigos e dossiers, enriquecendo o seu conteúdo.
A Europa, neste momento importante, precisa de boas decisões. Mas, acima de tudo, precisa de decisões bem informadas.