Se dúvidas houvesse, Rui Rio tratou de as desfazer esta segunda-feira, 21, ao final da tarde. O presidente do PSD esperou que a composição do novo Governo fosse conhecida, avaliou as condições de que dispunha e anunciou que vai voltar a ser candidato à liderança dos socias-democratas. Fá-lo, disse numa conferência de imprensa num hotel na Avenida da Boavista, no Porto, contra as “vaidades” e “interesses pessoais” dos que vai enfrentar nas diretas de janeiro do próximo ano e em nome de um partido ao centro, que não embarque em derivas liberais.
Num anúncio lido, que durou cerca de 15 minutos, Rio procurou demonstrar que não é presidente do PSD quem quer – ou quem “obstinadamente” o ambicione -, mas quem pode (ou tem condições para o ser). Desde logo, frisou ter recebido “apelos”, a que foi sensível, nomeadamente de que a não recandidatura poderia “levar o partido a uma grave fragmentação de consequências imprevisíveis para o seu futuro” e que seria necessário um líder que defendesse a social-democracia e mantivesse o PSD “no centro político, não permitindo que ele se transforme numa força partidiária ideologicamente vazia ou de perfil iminentemente liberal”.
A tese do presidente “laranja” é que é necessária uma “postura corajosa” na oposição e “não de um discurso falho de imaginação e dominado pelo cinismo e hipocrisia do politicamente correto”. Quer um partido “capaz de encurtar o espaço de manobra dos pequenos interesses pessoais” e das lógicas aparalhísticas e entende que o PSD “não se pode deixar tomar por grupos organizados, designadamente de perfil pouco ou nada transparente”, numa clara alusão à Maçonaria.
Rio notou que quase um milhão e meio de portugueses votou a favor da sua liderança e não em quem “tudo tem feito para a destruir”, num novo remoque ao adversário que, à partida, terá mais força interna: Luís Montenegro. “Estou, pois, disponível para disputar as próximas eleições internas, liderar a oposição ao Governo do PS e conduzir o PSD nas próximas eleições autárquicas”, atirou, sublinhando não estar disponível para “voltar a enfrentar deslealdades e permanentes boicotes internos”, como disse ter acontecido em janeiro deste ano quando o antigo líder parlamentar o desafiou para diretas imediatas, procurando colar o adversário ao “golpe” que António Costa deu a António José Seguro, no PS, em 2014.
Quando muito se especulava também sobre o futuro da bancada parlamentar, arrumou o assunto. Ele próprio assumirá essa despesa e um novo chefe da bancada será escolhido depois do Congresso de fevereiro. “No que concerne à liderança da bancada do PSD, deverá estar em consonância com o presidente do partido entretanto eleito. Nunca farei aos outros o que me fizeram a mim e, por isso, irei assumir eu próprio a liderança da bancada”, adiantou, assumindo tratar-se de uma “situação de exceção”.
A abertura para reformas – que empurra para a primavera do próximo ano -, essa, mantém-se, porque, insistiu, Rio recusa estar “permanentemente” em campanha. Já quando questionado pelo apoio de Maria Luís Albuquerque a Montenegro, recusou particularizar, mas deixou o recado a outros que possam vir a surgir ao lado dos oponentes: “Há pessoas que eu gostava que não me apoiassem, porque é bom que não me apoiem.”
Além de Montenegro, também o vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz, é candidato à presidência do PSD. Em ponderação continuam o ex-ministro do Ambiente Jorge Moreira da Silva e o ainda deputado e antigo assessor político de Pedro Passos Coelho Miguel Morgado.