A teoria da conspiração, versão do PS para o caso de Tancos, aterrou na campanha. A propósito: a nova procuradora-geral está em funções há tempo mais do que suficiente para influenciar, digamos assim, “favoravelmente”, este processo… O que terão a dizer, agora, os críticos da não recondução de Joana Marques Vidal, adeptos de teorias da conspiração de sinal contrário?…
Se não fosse o Bloco…
“Se não fosse o Bloco e o PCP, o Governo nada teria feito”. Esta é a mensagem do dia, transmitida por Catarina Martins, num discurso, durante um almoço com militantes, em Lisboa. A coordenadora do Bloco de Esquerda aproveitou a embalagem e fez a sua arruada no Parque das Nações, uma obra lançada pelo cavaquismo e inaugurada por um Governo de António Guterres, no tempo em que os governos do PS faziam coisas sem precisar do Bloco. Ali bem perto da antiga Expo 98, em Braço de Prata, existia a velha fábrica de armamento (Fábrica de Braço de Prata, precisamente) onde se produziam as pistolas metralhadoras FBP (as iniciais da firma) que equipam o Exército português. Arma muito leve e muito certeira (qualquer vesgo acerta na mouche, mais de 90 tiros em cem), tinha, porém, um pequeno defeito: extremamente sensível e pouco segura, disparava inadvertidamente, se, por exemplo, caísse no chão. E podia atingir qualquer um. Tal e qual como Tancos.
A pairar sobre a campanha – ainda não caiu no chão – o caso de Tancos dispara em todas as direções, quando menos se espera. Ontem foi tema dominante, disparado em rajadas de comunicação política, hoje abrandou um pouco e a patilha da arma esteve no “tiro-a-tiro”: apenas Assunção Cristas voltou a ele, para anunciar a iniciativa do CDS para a constituição de uma nova comissão de inquérito… depois das eleições. Já se percebeu que a esquerda não vai dar mais gás ao assunto e, pelos vistos, marcada a sua posição, a direita não quer ficar a falar sozinha. O tema seria retomado, de forma inevitável, na entrevista de Rui Rio à RTP, à noite, para vincar a sua posição: ou António Costa sabia da encenação para a recuperação das armas, e é grave, ou não sabia, e grave é. E daqui não saio, daqui ninguém me tira. E, no entanto…
O regresso da Casa Pia
… No entanto, através do Expresso, ficámos a saber que o PS desconfia de uma “conspiração” do Ministério Público, urdida ainda no tempo da procuradora-geral Joana Marques Vidal, para prejudicar os socialistas. Desde os tempos da famosa teoria da “cabala” da Casa Pia que não se ouvia uma destas! Sabe-se, porém, que se não fosse deduzida uma acusação – e muito dificilmente o ex-ministro da Defesa escaparia a ela, basta consultar o histórico do MP, em casos como o de Miguel Macedo, no caso dos vistos gold – os suspeitos do assalto a Tancos, detidos preventivamente, teriam de ser libertados, e o prazo acabava ontem. A teoria da conspiração é isso mesmo: uma teoria, bastante conveniente em tempo de campanha eleitoral. Mas não responde às perguntas.
A propósito: a nova procuradora-geral está em funções há tempo mais do que suficiente para influenciar, digamos assim, “favoravelmente”, este processo… O que terão a dizer, agora, os críticos da não recondução de Joana Marques Vidal, adeptos de teorias da conspiração de sinal contrário?…
Costa meteu baixa…
Sabemos que António Costa, talvez farto de algumas abordagens incómodas – a idosa que lhe perguntou pelo atraso na reforma, em Moscavide, os lesados do BES, no Porto, – teve a “sorte” de ser acometido por dores musculares nas costas, que o levaram a procurar assistência no hospital e a evitar futuras arruadas: a partir de agora, só fala em comícios, sem encontros imediatos do terceiro grau nem contraditório. Para o resto, meteu baixa. Os outros líderes partidários também já perceberam que a campanha joga-se nos soundbytes para as televisões, e lá vão apostando sobretudo, nos discursos formais, em detrimento das palmadas nas costas do povinho: vimos isso, também, no almoço de Catarina Martins, em várias ações de Rui Rio e numa intervenção de Jerónimo de Sousa.
O Pai Nosso da CDU
Por falar em, Jerónimo, o líder do PCP é o mais parecido que temos com Rui Rio: pela genuinidade, pelo repentismo, pela boa disposição e pela linguagem terra a terra. Anteontem, pediu que os votos não caíssem “no saco do PS”. Ontem advertiu que uma maioria absoluta poderia transformar o Parlamento “num cartório”, para “carimbar” as decisões do Governo. E depois insurgiu-se contra o “espantalho” da instabilidade, agitado pelo PS. Tem muita graça. Mas a postura da CDU faz lembrar a do antigo “pobre privativo” das famílias abastadas, que vinha pedir esmola e rezava um Pai Nosso: toda a campanha carrega na tecla de que a CDU “faz falta” ao Parlamento. Uma boa constipação também faz falta, de vez em quando, para “limpar”… Pedir que votem em nós porque “fazemos falta” não parece o mais forte dos argumentos.
Assunção Cristas, entretanto, fez hoje fez 45 anos. Soprou as velas e pediu mais 45. Pode não ser primeira-ministra já, mas ainda tem muito tempo.