Lembra-se daqueles vídeos que expuseram a todo o País os pés de chumbo de Aníbal Cavaco Silva e de Jerónimo de Sousa? Se não se recorda, estão à distância de meia dúzia de cliques. Espreite, não se vai arrepender. Esta quinta-feira de manhã, 26, em Santo Estêvão, Benavente, foi a vez de Rui Rio entrar no campeonato da dança, e com manifesta vantagem face ao ex-presidente do PSD e ao ainda secretário-geral do PCP.
No distrito de Santarém, ladeado pela cabeça de lista, Isaura Morais, e após ter subido a uma ceifeira mecânica para tratar dos arrozais e de ter ouvido quem percebe da poda, o chefe dos sociais-democratas dedicou largos minutos a assistir a uma atuação dos miúdos da Associação Recreativa do Porto Alto (AREPA), liderados por Mafalda Sousa, uma “defensora das tradições” ribatejanas. A ensaiadora não se fez rogado e chamou Rio para a roda. “É fácil: dois para a frente, dois para trás, e encaixa no sítio”, assegurou.
Era a estreia do ex-presidente da Câmara do Porto no chamado “cavalinho”. E logo com aprovação da responsável da AREPA, que até o convidou para aparecer nos ensaios da pequena coletividade de folclore. De seguida, para compensar as calorias perdidas, o líder “laranja” atirou-se à doçaria local (a um arroz doce que os anfitriões tinham preparado).
Poucos instantes volvidos, Rio foi desafiado pelos jornalistas a comentar as novidades – a acusação, leia-se – sobre o desaparecimento de material militar de Tancos e as subsequentes manobras de encobrimento, mas jogou à defesa, como faz sempre que casos desta natureza lhe surgem no caminho.
O folhetim, realçou, “não é grave”, é “gravíssimo” e de “discussão obrigatória”. Só que não a quer fazer a quente, sem ler o despacho de acusação e ficando-se apenas pelas notícias. “Eu não tenho, neste momento, conhecimento exato da acusação. Vou ver com mais atenção e, mais logo, falo sobre esse assunto”, prometeu aos jornalistas, salientando ainda que o episódio já não se insere nos chamados “julgamentos na praça pública”.
“Agora entramos numa fase diferente, não há segredo de justiça, há acusação em concreto. É um assunto de muito relevo político”, reconheceu, embora tenha resistido a responder diretamente sobre se António Costa deve uma justificação ao País, especialmente devido ao envolvimento do ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes.
Ora, se na véspera deixara no ar uma frase ambígua sobre o resultado “muito honroso” que estava certo que o PSD virá a obter a 6 de outubro, esta manhã calibrou o tiro e clarificou a ambição.
“É ganhar, fui claro. Disse em português. Vocês [jornalistas], às vezes, queixam-se de eu falar em alemão, [mas desta vez] foi em português. Para nós, honroso, o mais honroso, é ganhar. Ninguém anda numa eleição destas, pelo PSD, para não ganhar. Já tive a oportunidade de dizer, em Lisboa, que teria de estar internado no Júlio de Matos ou no Magalhães de Lemos, no Porto, se andasse aqui para perder. Não era normal uma coisa dessas, mas pode perguntar ao dr. António Costa se anda para perder”, retorquiu.
Por falar no primeiro-ministro, que regressou à narrativa do diabo, Rio tratou do exorcismo. O secretário-geral do PS, notou, só voltou a esse ponto, por “desespero” e por estar a “perder o pé”. A campanha está a mudar de ritmo e o presidente do PSD parece apostado em ser o rei da pista.