Foram vários os lugares que marcaram a vida de D. Manuel I. Numa série em video e podcast, Isabel Stilwell leva-nos a conhecer os sítios importantes para o Rei e que inspiraram o seu novo romance histórico.
10º Episódio
Torre de Belém e Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, Julho de 1506
Hoje estamos na Torre de Belém, e a minha proposta é que regresse comigo a um dia de Julho de 1516. A família real veio visitar as obras deste baluarte que, na margem norte, vai defender a entrada no Tejo — a par de uma outra estrutura defensiva na margem sul. É a Torre de São Vicente de Saragoça, padroeiro de Lisboa.
As obras começaram há dois anos, mas estão muito avançadas. Imagino aqui
D. Manuel empolgado, a gesticular com os seus braços muito compridos. Discute o andamento dos trabalhos com o arquiteto Francisco de Arruda, e Garcia de Resende escuta a conversa, ligeiramente amuado. Na sua crónica conta-nos que é dele o desenho original, a pedido de D. João II mas, mais uma vez, D. Manuel pegou numa ideia do antecessor e adaptou-a. Impondo-lhe a sua “marca”, claro, as esferas armilares encimam logo porta principal, o seu “estilo” está nos mais pequenos detalhes.
Neste nosso regresso ao passado, incluímos a rainha D. Maria. Estava grávida de sete meses, tem 34 anos, e esta é a sua décima gravidez. Os médicos já lhe disseram para ter cuidado, mas não lhes deu ouvidos. Os cronistas dizem-nos que são uma família muito unida, que o rei e a rainha passaram raros dias separados, que insistem em ter os filhos sempre por perto, e é a rainha que supervisiona a sua educação.
Vamos imaginar que trouxeram dois dos seus filhos, talvez D. Luís e D. Fernando que na altura teriam nove e dez anos. Gosto de pensar que terão sido eles a pedir ao pai que imortalizasse o rinoceronte nesta construção. Fazia sentido mandar esculpir o rinoceronte que desembarcara neste lugar em Maio de 1515, depois de uma viagem de 120 dias vindo da Índia. Um animal que nunca ninguém tinha visto ao vivo e a cores, e que muitos imaginavam ser o mítico unicórnio, e que acaba enviado ao papa, não sem antes ter sido o protagonista de uma luta contra um pequeno elefante no Terreiro do Paço.
Mas a família real tinha uma segunda visita a fazer, mesmo aqui ao lado…
A primeira pedra do mosteiro de Santa Maria de Belém fora colocada pelo rei
D. Manuel há pelo menos 14 anos, e este mosteiro jerónimo destinava-se a celebrar o regresso de Vasco da Gama e a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Que mudou tudo.
Construído necessariamente nesta Nova Belém: num tempo em que Belém e Jerusalém, onde nascera e estava sepultado Jesus Cristo, estavam nas mãos dos infiéis, esta nova Belém tornava-se central ao projeto messiânico do rei.
Era daqui que ele, o Rei Mago do Ocidente, como se intitulava, partiria numa cruzada final destinada a reconquistar os lugares santos, subjugando de vez os mouros e, conforme profetizado no momento do seu nascimento em Alcochete, mais acima neste mesmo rio, uniria o mundo sob uma mesma fé. Emanuel, Deus connosco.
Neste nosso último episódio de “Lugares de D. Manuel”, as ilustrações da Torre de Belém, e da luta do elefante e do rinoceronte são da autoria de Miguel Cardoso, e fazem parte do meu livro “O príncipe D. Luís e o Mistério do Mapa Roubado”, publicado pela Câmara Municipal de Salvaterra de Magos.
Para ouvir em Podcast: