George Verwer (1938-2023) nasceu em New Jersey, filho dum electricista, imigrante holandês, e ficou conhecido por ter fundado a Operação Mobilização (OM) em 1961 e a ter dirigido durante décadas.
A OM é uma instituição cristã de caridade que opera hoje em mais de 110 países do mundo e promove uma forma de evangelismo muito especial, baseada em navios-livraria que percorrem os portos do globo levando a Bíblia e livros cristãos a todo o lugar, em diferentes línguas, entre muitas outras obras educacionais e de cultura.
Os navios ficam em cada porto entre quinze dias e um mês. Durante esse período recebem diariamente milhares de visitantes. Desde a década de 70 que os navios da OM contabilizam uma média de quase um milhão de visitantes por ano.
Estas livrarias flutuantes oferecem mais de 5000 títulos, dando a muitos visitantes a oportunidade única de adquirir literatura de qualidade, em particular nos países e regiões do mundo com maiores dificuldades editoriais, educacionais e culturais. As equipas internacionais destes navios interagem com as comunidades locais, fornecendo ajuda e assistência aos mais pobres e realizam espectáculos culturais em cada porto.
Apesar de a família pertencer à Igreja Reformada o jovem Verwer não tinha vida devocional. Era problemático, tendo chegado a ser detido pela polícia. Veio a converter-se à fé evangélica numa campanha de Billy Graham, no Madison Square Garden, em 1955. Como resultado, dessa experiência de fé começou a falar aos outros sobre Jesus, distribuiu mil exemplares do Evangelho de João na sua escola, e organizou uma campanha evangelística.
Depois disso nunca mais parou o seu fervor por missões. Num certo Verão incentivou outros a vender os seus pertences para adquirir um camião e carregá-lo com exemplares do Evangelho de João em língua espanhola a fim de distribuir no México, onde 70% da população não tinha acesso aos textos bíblicos.
Segundo a Christianity Today, Verwer viveu durante seis meses no México e depois rumou a Espanha, no tempo do ditador Franco, “que havia expulsado pastores protestantes, banido todas as actividades e anúncios de cultos públicos e apreendido Bíblias protestantes”. Mais tarde “fez uma viagem para outro regime totalitário, dirigindo-se à União Soviética com um carro cheio de Bíblias para distribuir”, mas foi detido e expulso do país. Deportado para a Áustria, foi aí que entendeu que devia investir naquilo que era bom a fazer: mobilizar pessoas.
Organizou desde então cerca de 2 mil viagens missionárias de curta duração a países da Cortina de Ferro, e mais tarde a países muçulmanos, mas também para a Índia.
Ao longo da vida, e em especial através da OM, estimulou milhares de cristãos a partilharem a fé em todo o mundo. A OM foi considerada uma das maiores organizações missionárias do século XX ao enviar anualmente milhares de jovens cristãos em viagens missionárias. Neste momento a organização conta com 3.300 obreiros adultos, de 134 nacionalidades, que trabalham em 147 países. Pensa-se que outras 300 agências missionárias nasceram a partir de pessoas que ganharam experiência na OM.
Em meados dos anos oitenta o navio da OM, Doulos, visitou Portugal. Impossibilitado da atracar em Portimão por razões técnicas, veio fazê-lo a Setúbal numa das suas visitas surpreendentemente mais bem-sucedidas de sempre e de seguida acostou em Lisboa, portos onde foi visitado por milhares de alunos das escolas e muitos outros interessados.
Verwer deixou o cargo de diretor internacional da OM em 2003. Lindsay Brown, que dirigiu durante décadas a International Fellowship of Evangelical Students considerou Geroge Verwer “o mais destacado líder missionário norte-americano dos últimos 60 anos”.
Verwer faleceu de doença prolongada no dia 14 de Abril passado, depois de oitenta e quatro anos de uma vida inteira ao serviço dos outros. Nem sempre foi compreendido por ser arrojado e pensar fora da caixa, mas foi isso mesmo que fez dele alvo de admiração de milhares de jovens de diferentes culturas em todo o mundo. Num tempo de crise de valores e de convicções profundas, George Verwer deixou uma marca impressionante.
É a pessoas como ele que se aplica uma frase atribuída a Michael Jordan: “Algumas pessoas querem que algo aconteça, outras desejam que aconteça, outras fazem acontecer.”
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