Conta-se que um dia o menino Thomas Edison no regresso da escola trouxe um bilhete o professor com a recomendação de o entregar apenas à mãe. Ela começou então a ler o bilhete em silêncio e os olhos ficaram rasos de água, até que se decidiu a ler o escrito em voz alta para o filho ouvir: “O seu filho é um génio. Esta escola é insignificante para ele e os professores não têm capacidades suficientes para o ensinar. Por favor, ensine-o você mesma.”
Muitos anos mais tarde Edison veio a tornar-se um dos maiores inventores do século. Depois de a mãe morrer Thomas resolveu dar uma limpeza na casa e arrumar os papéis até que descobriu uma carta dobrada no canto de uma gaveta. Movido pela curiosidade pegou nela, abriu-a e descobriu que era a velha carta que o professor do menino Thomas tinha enviado à sua mãe. A grande surpresa veio quando descobriu que, afinal, o conteúdo era completamente diferente do que a mãe lhe tinha lido: “O seu filho é muito confuso e tem problemas mentais, por isso não vamos permitir que ele volte à escola.”
Edison chorou durante horas e então acabou por escrever no seu diário: “Thomas Edison era uma criança confusa, mas graças a uma mãe heroína e dedicada, tornou-se o génio do século.”
Esta estória, a ser verdadeira, contém algumas lições fundamentais. Desde logo por que há pessoas que não sabem descobrir o potencial das crianças. No caso de educadores tal circunstância assume uma gravidade notória, pois podem comprometer o seu desenvolvimento e futuro. A primeira lição a retirar daqui é que seria bom que os nossos professores de hoje tivessem a sensibilidade necessária não apenas para descobrir o potencial dos seus alunos, mas também para ajudarem para a desenvolvê-lo em vez de se resignarem a baixar os braços perante as dificuldades e a desistir deles.
Mas o cerne da estória é a mãe que fez a diferença. Não sei se o fez por reconhecer o potencial do filho ou simplesmente por se recusar a desistir dele. É que está na natureza duma verdadeira mãe nunca desistir dum filho, por isso é que é mãe. Esta é a segunda grande lição que o episódio nos suscita.
Em terceiro lugar há a lição da carta. Há cartas que nos marcam, que é como quem diz, rótulos que os outros nos aplicam. Nos anos sessenta desenvolveu-se um movimento científico chamado antipsiquiatria (termo usado primeiramente por David Cooper, em 1967) que se baseava na ideia – entre outras – de que os diagnósticos de doença mental constituíam só por si um estigma à partida, assim como os tratamentos psiquiátricos demasiado invasivos.
Mais tarde o grande psicólogo americano Carl Rogers desenvolveu uma abordagem psicoterapêutica que não passava pela aplicação duma grelha de leitura da pessoa, como até aí, nem por um qualquer diagnóstico. Ao contrário, o que havia a fazer era acompanhar a pessoa num quadro relacional baseado num conjunto de atitudes pessoais do técnico que facilitassem um ambiente de segurança, aceitação, confidencialidade e liberdade, que lhe permitissem fazer um percurso interno sem condenações nem constrangimentos, que o ajudassem a encontrar o caminho que melhor lhe conviria e ao ritmo com que se sentisse mais confortável.
Na sociedade consumista do pronto-a-comer, do pronto-a-vestir e do usar e deitar fora, não há paciência para investir tempo, cuidado e habilidade na recuperação dos objectos, das relações nem das vidas. Um casal de idosos dizia que no seu tempo quando algum utensílio se deteriorava procurava-se recuperar, mas que agora o hábito é lançar para o lixo e comprar novo. Referiam-se também ao seu casamento de mais de cinquenta anos.
A ideia de que as pessoas são descartáveis pode levar a extremos perigosos. Penso muitas vezes no que a humanidade perdeu em desenvolvimento tecnológico, científico, intelectual, cultural e moral com a morte daqueles milhões de vítimas do holocausto nazi, onde muitos dos melhores e mais prometedores valores humanos da Europa foram sacrificados de forma bárbara.
É comum dizer-se que a vida humana é sagrada ou que as vidas das pessoas são preciosas, mas poucos agem em conformidade investindo na vida de outros seres humanos a sério. Mas as mães – e não propriamente as apenas progenitoras ou parideiras – são das poucas que o procuram fazer. E as que o fazem tornam-se sempre supermães.
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