A PSP madeirense tem agora um dispositivo que mede o ruído provocado pelas motas. À partida, o meu interesse por esta novidade seria nulo; não só não conduzo como além de mais não vivo na Madeira e sim em Lisboa, onde só me falta uma década para poder viajar à borla nos autocarros. Mas a notícia despertou-me o apetite mental por outras utilizações ainda mais prementes do aparelhómetro, como por exemplo medir o volume sonoro das aventesmas que falam aos berros em público para o telemóvel, que seguram como se o interlocutor estivesse igualmente em alta voz, partilhando detalhes das suas vidas com menos interesse do que o canal ‘Caça e Pesca’.
Para esses seres, Dante reservou – no sétimo círculo do seu ‘Inferno’- o primeiro dos vales do rio Flegetonte, que pune com sangue fervente aqueles que foram violentos contra os seus próximos. Dir-me-ão que exagero e que, de qualquer forma, essa zona já deverá estar sobrepovoada com ditadores e autocratas do calibre de um Putin. É bem possível. Mas então pelo menos que passem lá um fim de semana e sem direito a pequeno-almoço, que é para aprenderem.
Já que se fala do inferno e do diabo, esta semana, para comprovar a eventual eficácia da arma contra os próximos e os menos próximos, Putin testou um novo míssil balístico intercontinental com capacidade nuclear, o Sarmat, e gabou-se de ele ser “o míssil mais poderoso com o maior alcance de destruição de alvos do mundo”. Afirmou-o, aliás, no mesmo dia em que os deputados do PCP decidiram anunciar que não estariam no parlamento para assistir ao vídeo-discurso de Zelensky porque, vejam só, o homem será “belicista”. Não fosse ser falso o mito de que os lemingues se suicidam em massa e seria caso para dizer que os nossos comunistas se estão a assemelhar cada vez mais a esses pequenos roedores do Ártico.
Criada nos anos 60 do século passado, a Acção Revolucionária Armada (ARA) foi o braço do Partido Comunista Português para diversos atentados, visando a NATO desde o seu primeiro momento. A primeira operação, aliás falhada, foi contra instalações da NATO em Rio de Mouro e mais tarde, já em 1971, ainda o quartel do COMIBERLANT não tinha sido inaugurado quando, um par de dias antes, os comunistas da ARA o mandaram pelos ares num ataque bombista. Mas isto, claro, foi noutro tempo. Os comunistas portugueses de agora, esses verdadeiros soldados da paz, já não admitem belicistas. Embora, se fosse ao contrário e o vídeo-discurso proferido pelo chanfrado que se gabou do potencial destrutivo do seu novo míssil que viajou seis mil quilómetros entre as regiões de Plesetsk e de Kamchatka, eu muito espantado ficasse por não os ver sentadinhos na sua bancada.
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