Percebi que a semana estava a ficar-me complicada lá para quarta-feira, quando dei por mim a pôr a tocar o ‘Fungagá da Bicharada’ do José Barata Moura. Música que, aliás, aproveito para recomendar aos pais que recuperem do baú da memória, se querem entreter com sucesso as suas criancinhas a par com outros clássicos imorredouros do mesmo autor tais como ‘Joana Come a Papa’ e ‘Olha a Bola, Manel’. Sucede é que os filhos cá em casa já são adultos e não sei bem que mensagem subliminar me fez ouvir “Vamos todos aprender como vive a bicharada, cão cardume e uma manada/Vamos ver não tarda nada/Quem é que afinal tem a voz bem afinada”.
Numa nota não relacionada, também na quarta-feira o nosso primeiro-ministro utilizou uma Caran d’Ache 849 Black Code Special Edition para a assinatura na posse do Governo. De acordo com a reputada ‘Pen World’, a 849 “é genuinamente um objeto de culto, tanto inteligente como informal, com o seu corpo de alumínio distinguido pela forma hexagonal: seis facetas de um temperamento único”. Ainda para mais é baratinha e apesar do nome armado ao pingarelho só custa uns módicos 39.95€ nos sites da especialidade.
Talvez tenha sido “o temperamento único” da caneta que valeu ao seu detentor a paciência para ouvir e sorrir durante o discurso do senhor Presidente da República, que o Filipe Luís aqui na VISÃO já descreveu como algo cujo “longo preâmbulo poderia ter sido escrito para ser lido numa sessão da Assembleia Geral da ONU” e que continha – depois de metido na Bimby – um aviso central; António Costa não pense que se pira para substituir Charles Michel à frente do Conselho Europeu em 2024, caso contrário teremos eleições antecipadas. Infelizmente, há uma forte possibilidade no horizonte de virmos a ter eleições antecipadas mesmo que o PM não saia para a Europa e se a nossa Economia não aterrar de pé, depois do salto mortal encarpado que inevitavelmente vamos todos ter que dar. Para ser mais específico, muito provavelmente um salto Tsukahara, que inclui um parafuso completo. Mas isso – como soe dizer-se – são outros quinhentos e até lá não me doa a cabeça. Para além do mais, estamos habituadíssimos a que a nossa política e economia passem a vida a lançar-nos em mortais para trás com pirueta.
Foquemo-nos no que é importante: já temos uma Assembleia da República cuja composição promete elevar as audiências do canal parlamentar até às alturas de uma Sport TV, já temos um Governo funcional e que não inclui Graça Fonseca e já temos a seleção numa caravela a caminho do Catar, para nos dar alegrias primeiro e lágrimas depois. Como disse o professor Pangloss antes de Lisboa ser destruída pelo terramoto: “Tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis”. É aproveitar.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.