Portugal tem mais incêndios do que Espanha, Itália e Grécia juntos. Descontando alguma paisagem mais inóspita e insuscetível de combustão na Grécia (e em largas áreas de Espanha), a diferença está, não na prevenção ou nos meios de combate, mas na ocupação e humanização do território. Dantes, também não havia incêndios em Portugal – e a sua eclosão nas últimas décadas não se deve aos negócios ligados ao fogo, que apenas aproveitam uma oportunidade criada pelo caos do ordenamento do território. A principal razão da diferença está no cultivo dos campos.
A agricultura é o principal meio preventivo contra os incêndios. Ora, o abandono das terras, em Portugal (que não se verificou noutros países mediterrânicos) foi o (literal) rastilho para as calamidades anuais, este ano potenciadas por uma primavera chuvosa que fez crescer, mais do que é normal, matos e outra vegetação altamente combustível.
E este é o momento para uma pergunta que nunca foi feita: quem é que conhece melhor o território? Também dou a resposta: as autarquias. Mas as autarquias saem, normalmente, ilibadas da equação dos incêndios. Hipocritamente, os autarcas desfilam a pedir meios e socorro ao poder central, medidas de prevenção que deviam ser eles a tomar, subsídios e seguros bonificados – mas não tratam do território. Quem, melhor do que a freguesia ou o concelho, pode identificar, palmo a palmo, as áreas de maior risco e agir, preventivamente, em conformidade? A junta de freguesia e o município. Não o ministério da Administração Interna nem o Ministério da Agricultura.
Falta, talvez, legislação que facilite a atuação das autarquias, nesta matéria. Mas não se vê um único autarca a reclamar essa legislação. Uma lei que obrigue, mesmo, os proprietários a limpar os terrenos. Ou que, em caso de incumprimento, autorize o poder local a fazê-lo, empregando mão de obra e, até, lucrando com isso. A fatura seria apresentada ao proprietário que, no caso de não poder pagar, ressarciria a autarquia em madeira ou terrenos. Vão ver que resultava…
Claro que não convém. Isso iria incomodar muitos proprietários e afastar muitos eleitores. Estamos bem assim.