Uma recente música dos Amor Electro proclama que “juntos somos mais fortes”. Lançado recentemente, o tema foi talhado – com alguma oportunidade comercial – para servir de hino à seleção nacional, durante a campanha que agora inicia no Campeonato da Europa e, feito para o acompanhamento do euro por parte da RTP, dá mais visibilidade à banda de Marisa Liz. Mas o compromisso da Federação já estava firmado com Pedro Abrunhosa que, de bom grado, adaptou a sua canção “Tudo o que eu te dou”, para que pudesse ser entoada pelos fãs portugueses nos estádios. O hino de Abrunhosa tornou-se oficial mas a estação pública não foi em cantigas e manteve o tema dos Amor Electro para o seu hino particular de acompanhamento da equipa de todos nós. Ou seja, há um acordo em apoiar a seleção, mas os “textos” são diferentes…
Ao mesmo tempo, no Parlamento, os partidos que, no essencial, estão de acordo, não se entenderam para votar uma única resolução contra a imposição de sanções da União Europeia a Portugal, pelo facto de o País ter excedido em duas décimas os limites do défice em 2015. Um desígnio nacional que teria outra força, perante Bruxelas, se fosse unânime e unívoco, ficou, bem à portuguesa, fragilizado pelo facto de cada lado do espetro parlamentar ter o seu texto de protesto. Ou seja, em Portugal, nem quando estão de acordo os políticos se entendem.
O Presidente da República veio pôr água na fervura. O seu instinto de analista diz-lhe que o “ótimo seria terem estado todos de acordo” em torno de um único texto contra as sanções. Mas, como ressalvou Marcelo, na nossa terra costuma dizer-se que “o bom é inimigo do ótimo” – e já foi bom terem todos estado de acordo no essencial, ou seja, no repúdio das sanções. O resto, são, também no entender do PR, “tricas muito portuguesas”.
Já agora, convém desmistificar algumas narrativas: Passos Coelho afirmou que, se não fosse a resolução do BANIF, o défice teria sido cumprido. Não é verdade: as duas décimas excedentes nada têm a ver com o BANIF. Se essas contas entrassem, o excedente seria de quase dois pontos – e não de duas décimas.
A esquerda, por seu turno, afirma que Bruxelas não pode castigar-nos pelo facto de as suas políticas, impostas a Portugal e seguidas à risca pelo anterior governo, não terem resultado. A ser verdade, seria como se um médico culpasse o doente por uma prescrição errada. Ora, não é bem assim. Primeiro, o Governo anterior não seguiu à risca as políticas de Bruxelas. É que 2015 foi um ano eleitoral, e Passos Coelho deu alguma folga extemporânea à austeridade. Em segundo lugar, se tivermos em conta de onde viemos – praticamente 11% de défice em 2010 com o último Governo Sócrates – dizer que os 3,2% de Passos Coelho em 2011 são um fracasso é de um insuportável atrevimento.
Pelos vistos, tudo o que os políticos nos dão são tretas. E, assim, não estaremos juntos nem seremos mais fortes. Exceção seja feita à Equipa de Todos Nós, claro. Força, Portugal!