“Meu caro Pedro Passos Coelho, dizem que nunca uma coligação chegou ao fim do mandato. Esta vai chegar ao fim e ser um caso para a ciência política”. As primeiras palavras de Paulo Portas foram para o convidado mais ilustre recebido em Oliveira do Bairro, no congresso do CDS. E o compromisso de manter a coligação até ao fim parece ser, portanto, irrevogável.
A data de 17 de maio é o número magico e Portas, pelo menos até lá, esta disposto a fazer tudo, para ” recuperar a liberdade”. Talvez a liberdade do País, que sairá, nessa altura, de debaixo da tutela da Troika. Mas talvez, também, a liberdade do CDS dentro do governo e no contributo para a definição das políticas públicas.
Mas, as segundas palavras de Paulo Portas, num discurso bem elaborado, são para o principal partido de oposição. O CDS toma a dianteira, dentro da coligação, no estender de mão ao diálogo. Portas faz questão de ser o primeiro a corresponder aos apelos do Presidente da República e, ao mesmo tempo, constrói pontes para o futuro: ele sabe que, mais tarde ou mais cedo, o CDS fará uma parceria qualquer com os socialistas. E pede uma pacificação, em nome do interesse nacional. Pede que o PS mude o chip.
Paulo Portas é tudo menos naif e não pode ignorar a ingenuidade deste pedido, a um ano de eleições legislativas. Mas ele não esta, verdadeiramente, à espera de uma pacificação com o PS. A sua intenção é falar ao coração das “pessoas que estão lá em casa”, expressão que, de vez em quando, utiliza. Para essas pessoas, espera ele, o PS será o culpado da não pacificação e, já agora, das decisões do Tribunal Constitucional.
O discurso de Portas, bem construído, repete, no entanto, quase todas as ideias do discurso de abertura. O líder do CDS traz duas, três ideias e repete-as a exaustão: chegar a 17 de maio e fechar o programa de ajustamento. Recuperar a liberdade e a soberania. Fazer crescer as exportações. Chamar o PS ao compromisso. E, recauchutando um velho conceito salazarista, dando- lhe um sentido moderno, pôr o pais a “viver habitualmente” – ele diz “viver com normalidade”.
Para que não se diga que o discurso não traz novidades, Portas reserva para as páginas lá do meio do discurso a referencia a um “simplex 2″. Mas passa pela ideia como cão por vinha vindimada, retendo-se a frase de que ” a administração píblica deve perceber que tempo é’ dinheiro”. Depois fala de demografia, sem anunciar qualquer política de apoio a família. E fala da desertificação, do território e da sua reorganização, mantendo, também aqui, um discurso vago e inconclusivo.
É um discurso prudente, limitado na euforia, correto mas com pouca chama oratória. Quase intimista, Portas parece pesado e cansado, e a pouca energia passa para o congresso, que vibra pouco. Sente-se que estamos num momento de expectativa, como se todos estivessem a espera de que qualquer coisa acontecesse. Essa coisa, garante Portas, sucedera a 17 de maio. Apostar-se-ia que Portas não se refere, apenas, ao final do programa de ajustamento. O líder do CDS, esse sim, está a mudar o chip. Veremos que surpresas nos reserva, para os dias em que comemora o primeiro aniversário da sua demissão irrevogável.