Em 2007, encontrei, em Kigali, capital do Ruanda, o português João Daniel, casado com uma senhora de etnia tutsi. Gerente de hotéis na zona do Kivu, junto aos grandes lagos, encostado à República do Congo, amigo do presidente ruandês, ele era o único ‘tuga’ a viver naquele fim do mundo, e a confirmação de que em toda a parte encontramos um compatriota. Herança de uma diáspora que começa nos Descobrimentos e nos levou a ser, lá fora, sempre maiores do que o País. Sobredimensionada para o tamanho e a importância de Portugal, porque noblesse oblige, a diplomacia portuguesa pode exibir pergaminhos de prestígio, experiência adquirida e a dose de sabedoria secular necessária para contribuir, decisivamente, para a improvável resiliência da nossa soberania.
Antes de existir o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros, criado em 1830, já os nossos diplomatas davam cartas nas grandes cortes europeias. Tivemos o marquês de Pombal, em Londres e junto do Sacro Império Romano-Germânico, em Viena. Hoje, quem comanda a diplomacia portuguesa, é Rui Machete, antigo administrador da SLN, detentora do nosso bem conhecido BPN.
Outro diplomata famoso foi o marquês de Soveral, encarregado de normalizar as relações com a Grã-Bretanha, após a crise do Ultimato, e brilhante negociador do 2.° Tratado de Windsor. Ainda hoje é recordado em Inglaterra. Na atualidade, seria chefiado por Rui Machete, ex-dono de ações de SLN vendidas com bom lucro.
Pelo Ministério passaram nomes como o de Afonso Costa, figura proeminente da I República, e referência histórica no Portugal do século XX. Tal como, mais tarde, António de Oliveira Salazar, acumulando o cargo com o de Presidente do Conselho, e a raposa velha de que precisávamos, no período entre a Guerra Civil de Espanha e o final da II Guerra Mundial. Hoje está lá Rui Machete, que fala de um segundo resgate às nossas contas e à nossa soberania.
Pelo meio, ocuparam o cargo nomes proeminentes, como o de Caeiro da Mata, braço direito diplomático de Salazar, que marcaria o estilo daquela casa, por décadas, ou Armindo Monteiro, o anglófilo que tanto contribuiu para as boas relações com o Reino Unido, no período da Guerra. Hoje temos Rui Machete, que pede desculpa a Angola.
Marcelo Caetano, grande figura do Estado Novo, ou, no plano oposto, Mário Soares, arquiteto da adesão europeia, fizeram história nas Necessidades. Mas também Melo Antunes, ideólogo do 25 de abril e figura de proa na fundação da democracia. Hoje, temos Rui Machete, “decapitado da FLAD”, num telegrama do embaixador dos EUA em Lisboa, revelado pelo wikileaks.
Franco Nogueira, que conseguia defender, com unhas e dentes, o indefensável, na ONU, foi figura carismática. Freitas do Amaral chegou a secretário-geral da mesma ONU. E Durão Barroso é hoje presidente da Comissão Europeia. Agora está lá Rui Machete, o homem que desmentiu ser acionista da SLN e depois reconheceu ter-se enganado.
Mouzinho de Albuquerque, duque de Palmela, barão de Sabrosa, duque de Loulé, Anselmo Braamcamp, Hintze Ribeiro – Almeida Garrett! – passaram, por lá. Mas também Marcelo Mathias, Medeiros Ferreira, Vítor Sá Machado ou Jaime Gama. Hoje, temos… Rui Machete.
Entre as assinaturas do tratado de adesão à CEE, encontra-se a do então vice-primeiro-ministro Rui Machete, o ponderado estadista que chegou a liderar o PSD. Hoje, estaria a do ministro Rui Machete, o único que conseguiu tornar um cargo habitualmente popular num calvário insuportável.