Faz hoje vinte anos que Portugal organizou a Cimeira das Lajes, um número diplomático para acomodar a inevitabilidade da invasão do Iraque, decidida em Washington pouco depois dos ataques de 11 de Setembro, isto é, um ano e meio antes da entrada das tropas norte-americanas em Bagdade. Dez anos depois da reunião nos Açores, procurei perceber melhor o processo de decisão português, num livro baseado na literatura publicada, imprensa da época, debates parlamentares, documentos privados partilhados e entrevistas aos protagonistas nacionais que se disponibilizaram a falar (entre eles, Jorge Sampaio, então Presidente da República; António Martins da Cruz, então Ministro dos Negócios Estrangeiros), ou a outros que participaram no processo, embora pedindo reserva de identidade.
Nessa anatomia dos processos de decisão, falei ainda com conselheiros do Presidente Bush filho e do primeiro-ministro Tony Blair, embora os mercados editoriais norte-americano, britânico e até espanhol já tivessem dado à estampa testemunhos importantes sobre as respetivas decisões. Estive, ainda, em Paris a recolher testemunhos e a reconstruir o debate político dos meses anteriores à guerra, fundamental para perceber a dinâmica do eixo franco-alemão (ao qual se juntou Moscovo) como contraponto ao quarteto que estaria nas Lajes e à “nova Europa” de Donald Rumsfeld, os países do Leste que entrariam na NATO e na UE um ano depois.