Acabado de cumprir metade do mandato, Joe Biden prepara-se para regressar à Europa por alturas do primeiro aniversário da guerra na Ucrânia. É um bom sinal. Desde que tomou posse, o Presidente norte-americano e os principais decisores políticos e militares da administração tudo fizeram para repor os níveis de confiança com os aliados europeus, começando pelo fórum para a regulação tecnológica, passando pela credibilização da NATO e das relações institucionais com a União Europeia. Moscovo, seguindo aliás uma vocação antiga, fez o resto para aproximar Washington das capitais europeias, dando também um sentido reforçado à defesa coletiva transatlântica.
Em 2021, todas as seis deslocações que Biden fez ao exterior foram a países europeus. O secretário de Estado Antony Blinken esteve quarenta e sete vezes em países europeus, nestes dois anos, e a primeira viagem da secretária do Comércio, Gina Raimondo, foi a Bruxelas para participar na cimeira com a União Europeia. Em 2022, das catorze saídas oficiais de Biden, seis foram à Europa, quatro a países asiáticos e quatro ao Médio Oriente. Ao contrário do que tantas vezes se diz, a Europa não saiu do radar dos interesses norte-americanos, nem a aproximação se deu pelos efeitos causados pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Ela é anterior a fevereiro de 2022, e tem outras linhas de debate além das que têm reduzido a relação à defesa. O que podemos dizer é que se neste plano as coisas correm com maior estabilidade, dentro de um quadro de atuação conjunta com décadas, noutros domínios não se pode falar de avanços significativos. Pelo contrário. Um dos exemplos mais urgentes é a regulação indispensável ao universo das grandes empresas tecnológicas, cujo impacto tem sido altamente destrutivo na qualidade do debate público, na transparência de processos eleitorais, na credibilidade da informação, na preservação do jornalismo e na equidade fiscal das nossas sociedades. O outro exemplo, tão ou mais inquietante nas relações internacionais contemporâneas, tem sido a predisposição comercial norte-americana em relação à UE (com competência exclusiva em comércio externo), mais próxima do protecionismo de Trump do que de um construtivo quadro de práticas que por sua vez restituam credibilidade às próprias regras da Organização Mundial do Comércio.