A invasão russa da Ucrânia, iniciada em fevereiro, marca o ano zero da nova Europa.
Se é na União Europeia que a paz se consolida, significa então que numa escala continental só poderemos falar de paz hegemónica quando todos fizerem parte da União? Em tese, sim. Na prática, a teoria é outra. Suíça, Islândia e Noruega encontraram patamares alternativos e o Reino Unido escolheu um rumo diferente. O que muda é o ponto de partida dos países atualmente nos estágios anteriores ao alargamento: sob ocupação parcial de território (Ucrânia, Moldávia, Geórgia) ou sob os efeitos de conflitos étnicos (Sérvia, Kosovo, Albânia, Macedónia do Norte, Montenegro). A questão que se coloca na gestão estratégica da UE é esta: a continuidade do sucesso do seu processo de alargamento dependerá da forma como influenciar a evolução dos países em questão. Para isso, tem ao dispor instrumentos financeiros, jurídicos e políticos, todos centrais na identidade comunitária. Mas, como 2022 confirmou, sem credibilidade militar a UE fica coxa na definição da segurança continental e refém de terceiros. Foi assim nas guerras na ex-Jugoslávia, continua a ser assim na Ucrânia. A primeira lição do ano, com epicentro nesta guerra, está aqui: os países da UE, no que toca à segurança e defesa da sua geografia prioritária, não estão ainda à altura dos desafios colocados pela era da competição entre grandes potências e, por isso, ficaram no meio dessas contendas, correndo contra o tempo.