É um dos debates mais interessantes sobre o futuro da Europa e, talvez por isso, um dos que se quer evitar: o alargamento da União Europeia à Ucrânia. Sou dos que consideram não fazer sentido fugir ao tema, mesmo estando indefinido no tempo e ainda mergulhado numa guerra diária pela sobrevivência de um povo. O primeiro argumento a favor está na valorização da história da construção europeia, uma integração de sucesso ímpar entre cada vez mais Estados independentes, sob os auspícios de critérios democráticos. Os alargamentos da União são a grande narrativa triunfal da Europa contemporânea. Não há nenhuma razão para a desconstruir, relativizar ou apresentar de forma temerária, e é um erro tremendo perdermos a tração das boas políticas comunitárias, entre elas a consolidação de um espaço democrático, seguro e próspero.
Com desequilíbrios regionais, desigualdades sociais, fragilidades políticas, mas ainda assim garante de instrumentos conjuntos para melhorarmos, corrigirmos e ultrapassarmos ciclos de crise sem conflitualidade entre membros. Quem defende intransigentemente a democracia só pode regozijar-se por incluir nesse seu espaço político comum outras democracias europeias, mais produtores de segurança cooperativa e mais contributos para redimensionar o nosso mercado interno. Isto é válido para os Balcãs em trânsito para a adesão, a Ucrânia, a Moldávia, a Geórgia ou até a Bielorrússia, se isso estivesse em cima da mesa. Em último caso, até a própria Rússia. Não sendo isso que está em causa, foco-me apenas na Ucrânia.