Um dos caminhos corrosivos percorridos pelas democracias é a alienação. A clausura numa bolha funcionalista, descolada da realidade, apoiada numa legitimidade meramente orgânica, mas desprovida de uma fonte eleitoral clarificadora e reforçada, é meio caminho andado para o declínio democrático. Por exemplo, a ascensão de Rishi Sunak a chefe do governo está certamente de acordo com as regras internas do partido conservador que, mantendo intacta a maioria parlamentar, o elegeu como líder. O detalhe, no entanto, não está na forma mas na substância.
Ao colher legitimidade inequívoca na maioria parlamentar saída das legislativas de 2019, suporte de um governo no qual serviu dois anos como ministro das Finanças, Sunak procurou apagar o corte que objetivamente fez com a mesma maioria, quando se demitiu do cargo no início do verão, terminando na prática com o governo de Boris Johnson, gesto que Liz Truss não fez. Por outras palavras, Sunak foi cooptado pela mesma maioria com a qual reconheceu ter atingido o seu limite enquanto governante. Quer isto dizer que foi ilegítimo ou ilegal o que fez? Não. Mas quer dizer que a ambição pessoal derrotou, implacavelmente, a relação estrutural que deve existir entre quem elege e quem respeita o resultado dessa escolha. A democracia britânica não violou qualquer regra, apenas não cuidou de si como devia.
