A Europa a “várias velocidades”, com “geometrias variáveis”, “eixos”, “motores”, “zonas de vizinhança”, “debates institucionais” e “crises atrás de crises”, celebrou mais um 9 de maio no meio da profecia de Monnet. Na verdade, foram sempre essas múltiplas características a moldá-la ao longo da sua história de integração política, económica e, mais recentemente, monetária. E assim continuará. A questão que se coloca, com testes de stresse brutais nestes últimos dois anos, é esta: que fórmula poderá acomodar interesses e prioridades divergentes, estádios de integração distintos, expectativas variadas e pressões externas para todos os gostos?
Até aqui, de forma progressiva, a União Europeia foi essa fórmula. Uma espécie de geringonça aperfeiçoada que começou por fazer a paz entre a França e a Alemanha, continuou pela estabilização britânica, novas democracias a sul, inevitabilidades ao centro e a norte, compondo o alastramento democrático continental ao leste, vindo do jugo totalitário. Na antecâmara deste roteiro de direitos, deveres e proteção estão os Balcãs pós-conflito, o colosso turco e, subitamente, três Estados pós-soviéticos com conflitos internos, à mercê da agressividade russa. No entretanto, a maior potência militar, o Reino Unido, decidiu abandonar o barco, os tratados tornaram-se irrelevantes para alguns membros e as doutrinas sobre o futuro da Europa dispersaram-se em ideias e protagonistas. Neste último 9 de maio, não faltaram posições afirmativas, de Lisboa a Moscovo, Paris ou Bruxelas. Mas também de Sófia a Copenhaga.