A Ucrânia não é só o epicentro do futuro das relações entre a Rússia, o resto da Europa e os EUA, como pode definir os termos da parceria estratégica entre Moscovo e Pequim. Vale a pena recordar que o início dos Jogos Olímpicos de Inverno, precisamente em Pequim, cumpriu um propósito menos desportivo e deu à estampa uma declaração sino-russa pouco comum, mas muito ambiciosa.
Primeiro, esta relação é estratégica quando acomoda fornecimento energético russo a 30 anos, via Cazaquistão e outros pipelines em marcha, permitindo à China depender menos do fluxo instável das rotas do Golfo Pérsico e do estreito de Malaca. As dimensões económica e energética podem ter ainda um capítulo proveitoso no Ártico, com reservas abundantes de petróleo e gás, ricas em minérios, e rota potencialmente mais rápida e barata ao comércio marítimo entre o Extremo Oriente e o Norte da Europa, caso o período de navegabilidade aumente com o degelo provocado pelas alterações climáticas. Deste ponto de vista, pode ser proveitoso para ambos uma fórmula de projeção de poder que concilie interesses entre o projeto Uma Faixa, Uma Rota e a União Económica Eurasiática, dando força à arquitetura de produção e distribuição energética russa. A competição e a primazia económica pós-Covid vão jogar-se muito nestas frentes e quem estiver mais capacitado para dominar a cadeia de valor entre matérias–primas essenciais à revolução tecnológica, produção industrial, distribuição e acesso a mercados com poder de compra tem vantagem evidente.