Esta crónica foi escrita na Ostroh Academy, na cidade ucraniana de Осtрoг. É uma instituição universitária, onde sou Erasmus visiting-professor, parceira da Universidade da Beira Interior.
Um facto que me surpreendeu desta vez aqui em Octpor, após o início da pandemia, é que na Ucrânia praticamente já ninguém usa máscara. A razão é simples: é um povo (ex-comunista) muito disciplinado e a vacinação está num estágio bastante avançado.
Por falar em Covid, vacinas e obrigatoriedade de testes para viajar: para sair de Portugal tive que fazer um teste PCR, que me custou 100 euros. Aqui na Ucrânia, o mesmo teste custa 20 euros. Fico com a sensação de que fui roubado.
Na verdade, a pandemia está a render milhões/bilhões de euros/dólares para uma pequena minoria (elite); por outro lado, doenças e (milhões de) mortes para a maioria da população, mais conhecida como ‘povo’. Desta feita, é possível elencar os principais beneficiários, governos e empresas, com a desgraça alheia:
1. A China, em grande destaque: tudo aponta que é o país responsável pela criação e propagação do vírus e – não é coincidência – o que mais tem lucrado económica e geopoliticamente com a pandemia.
2. As indústrias farmacêuticas: a pesquisa para a produção das tão desejadas vacinas foi totalmente financiada pelos governos (norte-americano e europeus), mas as empresas privadas são as detentoras das patentes e vendem as vacinas para os mesmos governos que as financiaram; portanto, um excelente negócio para as empresas (e alguns governantes corruptos associados), ficando os de sempre, os contribuintes, com uma conta altíssima para pagar.
3. Laboratórios de análises: estão a ganhar milhões à custa da obrigatoriedade de se fazer o teste (PCR e antigénio) para poder viajar. As discrepâncias de preços que referi acima confirmam isso.
Mas este não é o meu tema de trabalho em Octpor, uma pequena cidade do interior da Ucrânia, com apenas 15 mil habitantes.
Algumas curiosidades sobre esta localidade. Foi criada, no início do século 12, por uma família abastada (Ostrogski). A partir do século 14, a região foi sucessivamente incorporada no reino da Polónia, Lituânia e da Rússia.
A Academia de Ostroh (primeira instituição universitária da Ucrânia) desenvolveu-se a partir do século 16, pelas mãos de protestantes-calvinistas e de judeus, dois grupos que valorizam a educação e a cultura.
Os judeus, até à II Guerra Mundial (1939-1945), formavam uma grande e influente comunidade em Octpor, como testemunham a grande sinagoga (construída em 1627) e o cemitério judeu.
A ocupação nazista alemã resultou no estabelecimento do Reichskommissariat Ukraine. Como consequência imediata da anexação, em 1 de setembro de 1941, 2.500 judeus foram mortos em Octpor e, seis semanas depois, o gueto foi dissolvido e mais 3.000 judeus foram aniquilados. Mas o genocídio continuou: visitei hoje – 21 de junho, feriado religioso na Ucrânia (dia da Santíssima Trindade) – dois ‘killing fields’; no total, foram fuzilados, somente nesta pequena cidade, cerca de 14 mil judeus. Mas isso é apenas uma pequena parte do holocausto ucraniano: no total, 1.430.000 judeus foram assassinados na Ucrânia ocupada.
A II Guerra Mundial devastou a Ucrânia: morreram cerca de 7 milhões de pessoas, 4 milhões foram evacuadas para territórios russos e 2.2 milhões foram levadas para os campos de concentração nazis. Como ‘uma desgraça nunca vem só’, após o fim da guerra, a Ucrânia liberta-se dos alemães (nazistas) e cai nas mãos dos russos (comunistas) e torna-se na República Socialista Soviética Ucraniana. No entanto, mesmo com a substituição do invasor, a tragédia continua: os campos de trabalhos forçados da Sibéria (Gulag) substituíram os campos de morte nazis.
Desde 1991, a Ucrânia é um país independente do domínio soviético. Está em franco desenvolvimento económico e com adiantadas negociações para se tornar um membro efetivo da União Europeia para, definitivamente, sair da zona de influência da Rússia.
Como realçou a embaixadora Inna Phnivets, no Público (11-08-2020), “a proclamação da independência restaurou o Estado de pleno direito e o seu espaço no mundo, criando as condições prévias para o povo ucraniano ser dono da sua própria terra. Os 29 anos de independência mostraram que a Ucrânia tem sido um Estado soberano, capaz de consolidar valores democráticos e de proteger a sua liberdade”.