A ministra da coesão territorial, Ana Abrunhosa, viu-se envolvida num caso de potencial conflito de interesses, por duas empresas do marido terem recebido centenas de milhares de euros em fundos comunitários. Fundos comunitários estes cuja gestão é de entidades que a ministra tutela.
Para Filipe Luís, “o fundamental é perceber se houve alguma irregularidade na atribuição dos fundos às empresas do marido de Ana Abrunhosa”. “Tinha direito aos fundos? Beneficiou de algum favor? Candidatou-se em pé de igualdade com outras empresas? Teve alguma informação privilegiada? É que, qualquer dia, em nome de algum fundamentalismo ético, ninguém quer ir para ministro… Mas a ministra, confrontada no Parlamento, em vez de explicar tudo, reagiu fazendo uma cena emocional. Isso denota falta de transparência“, sublinha o editor-executivo da VISÃO.
Mafalda Anjos é mais crítica neste ponto: ” É o marido António Trigueiros Aragão que assume que falaram sobre este tema em casa. E a governante escuda-se num parecer da Procuradoria-Geral da República, emitido já depois de as verbas terem sido adjudicadas, que diz que não é ilegal o marido concorrer a fundos, mas fala em ‘obscuridade’ da lei. Ora a ministra pode até cumprir formalmente a lei, mas o conflito ético é evidente”, destaca.
Em relação à acusação que recaiu sobre a ministra, o jornalista Nuno Aguiar nota que o cumprimento da lei não significa que não haja matéria censurável. “Não parece ser muito exigente pedir que a pessoa mais próxima da ministra que tutela os fundos comunitários não se candidate a eles enquanto esta detém a pasta”, refere.
“Tivemos um momento Taremi na comissão parlamentar: foi como se a ministra estivesse num flash interview: como foi confrontada com um assunto que não estava na ordem do dia, uma deputada do PS quis apagar a gravação e corrigir a ata. Já se tinha visto no futebol este tipo de mentalidade reveladora de falta de noção e de cultura democrática. Agora, foi no parlamento… O problema desta proposta da deputada do PS são os antecedentes. Por exemplo, já por oito vezes a maioria bloqueou a ida ao Parlamento de outros tantos ministros, para esclarecimentos à oposição. Isto não é uma maioria absoluta: é uma maioria bloqueadora!“, diz Filipe Luís.
O avanço da extrema-direita na Europa foi outro tema em análise. “Itália será mais uma vez um laboratório político. É interessante ver o que fará agora Georgia Meloni: insistir no registo de Viktor Orbán e afrontar o estado de direito europeu e causar uma grave mossa na unidade europeia, ou emendar a mão e moderar-se, porque precisa muito, sobretudo nesta conjuntura económica, dos fundos que vêm da UE”, questiona Mafalda Anjos. “Pode ser um bom exemplo de uma coligação com extrema-direita que se corrói por dentro e cai de podre. Salvini, dentro em breve, estará fazer o seu caminho e começarão as lutas internas. Ninguém antecipa mais de ano ou ano e meio a este governo”, sublinha diretora da VISÃO.
Para Nuno Aguiar, “a eleição de Meloni vai representar uma nova brecha nos esforços de consenso europeu, juntando-se a Hungria e Polónia”. O jornalista alerta para sinais a que o centro-direita deve estar atento. “Meloni foi buscar votos a Salvini e a Berlusconi. É um aviso para o centro-direita português que, em parte, reagiu comparando esta eleição com os acordos entre PS e PCP em 2015.” Isto acontece dias depois de a liderança do PSD ter pedido aos seus deputados para aprovarem o candidato do Chega à vice-presidência da Assembleia da República. “Podemos achar que chamamos estes grupos extremistas junto a nós, mas eles podem acabar por nos absorver.”
“Os governos moderados e os partidos mainstream, e a esquerda e geral, foram negligenciando as questões sociais, laborais e os problemas dos mais desfavorecidos, excluídos, marginalizados e dos sem voz, a favor de microcausas mais atraentes mediaticamente, os direitos LGBT, de igualdade de género, racismo, imigração etc.. São avanços civilizacionais indiscutíveis, mas o esquecimento dos anseios das perigosas “maiorias silenciosas” deixou-as entregues aos partidos populistas da direita radical e da extrema-direita, que se arvoram em condições de lhes dar respostas. Isto explica a ascensão destes partidos”, diz Filipe Luís.
A vitória do Irmãos de Itália surge também numa altura em que se adensa o pessimismo acerca da economia em 2023, com cada vez mais elevada probabilidade de recessão. “Os últimos dados mostram que, se António Costa, evitou colocar a carne toda no assador com este pacote de apoio, terá provavelmente de o fazer no arranque do próximo ano”, antecipa Nuno Aguiar. “Perante uma inflação persistentemente elevada, os bancos centrais serão pressionados a subir mais os juros, o que pressionará famílias com crédito à habitação e empresas.”
“O Governo tem de ser muito prudente nos pacotes para mitigar os efeitos da inflação e da crise. É que é fundamental reduzir a dívida para valores inferiores a 120% do PIB, limite psicológico a partir do qual os mercados costumam pressionar os países, o que conduz a resgates que ninguém quer. Ora, com a subida das taxas de juro, Portugal fica mais desprotegido”, destaca Filipe Luís.
Mafalda Anjos destaca o que se passa no Reino Unido e os efeitos da insanidade política em ação. “As ideias loucas de Lizz Truss de baixar impostos ao mesmo tempo que aumenta despesa geraram o pânico nos mercados e levaram a uma derrocada da libra, obrigando a uma intervenção do Banco de Inglaterra. São boas lições para recordar.”
Debaixo de olho estiveram ainda, neste programa, os temas da revolta feminina no Irão, a sabotagem ao gasoduto NordStream 2 e a fotografia de Marcelo Rebelo de Sousa com a camisola dos Giants, nos Estados Unidos.
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