Depois de tanto tempo à espera, os problemas a avolumarem-se e a ansiedade a crescer, a expectativa em relação ao plano de apoio às famílias era grande. “António Costa precisava de tirar um coelho da cartola, e tirou um à primeira vista mais gordinho do que se antecipava e até do que propunha a oposição, mas o coelho vinha com um problema de pelo. Que é como quem diz, com uma surpresa mal explicada e desagradável para os pensionistas. Em causa está, afinal, uma revisão da legislação da Segurança Social com efeitos a partir de 2024”, enquadra Mafalda anjos, diretora da VISÃO.
Em análise no Olho Vivo desta semana esteve o pacote para as famílias e, em detalhe, as medidas anunciadas para os pensionistas – que uns veem como “o maior aumento de pensões dos últimos 20 anos”, e outros como um “truque” de ilusionismo, um esbulho e um corte de mil milhões.
Um enorme “erro de comunicação que prejudica o governo. Seria muito mais inteligente assumir desde logo com frontalidade a questão da insustentabilidade da Segurança Social”, diz Mafalda Anjos.
Para o Diretor da Exame, convidado especial neste programa, o pacote apresentado “podia ser mais ambicioso, mas é um erro acharmos que é o último. O governo foi prudente, e bem, mas tem mais munições que pode utilizar mais tarde. Mas esta comunicação desastrosa está a ensombar um programa que não é tão mau assim”.
“Os pensionistas são uma faixa muito importante do eleitorado. Desde os tempos de Passos Coelho, em que eles ficaram zangados com o PSD, por causa dos traumáticos cortes nas pensões, que o PS os trata com pinças…”, destacou Filipe Luís, editor-executivo da VISÃO.
“O governo quis tratar este tema dos pensionistas com pinças. Mas esqueceu-se que estava sem luvas, as pinças eram de metal e queimou-se”, afirmou Tiago Freire, aludindo à falta de explicações sobre os efeitos futuros sobre as pensões. O mesmo se aplica à questão do IVA na eletricidade – “uma medida que não precisava de lá estar, porque não serve para praticamente nada” – em que a anunciada descida do IVA de 13 para 6% se aplica apenas a uma ínfima parte da fatura.
No geral, estas falhas de comunicação acabaram por concentrar as atenções, e não tanto as medidas. “Estes esquemas acabam por gerar muitas críticas e ensombrar um programa que na verdade nem é assim tão mau”, acrescentou.
Mafalda Anjos entende que “existirá uma distância grande entre o que a bolha e os políticos vão andar a discutir, e o que os pensionistas vão estar a sentir bolsos. Ainda se lembram bem de quando lhes retiraram 10% em 2013”. Filipe Luís concorda: “Não sabemos se os pensionistas se aperceberão do ‘truque’ subjacente a estes ‘apoios’. Quando receberem o chequezinho da meia pensão, mais um aumento de 4% em 2023, pensarão que mais vale um pássaro na mão. Preferem o que é ao que poderia ter sido…”
Filipe Luís considera que este é um “programa relativamente conservador”. “Com um excedente de 7 mil milhões de receita fiscal, só por efeito da inflação, um apoio de 2,4 mil milhões às famílias parece curto. Veremos o que tem o Governo a oferecer às empresas…” E explica: “Estas medidas são medidas de emergência. O Governo tenta conter o fogo deitando-lhe água – mas não faz um trabalho de sapador, mais estrutural, que seria o de apresentar medidas fiscais ambiciosas. Claro que o paradigma é o mesmo dos tempos da pandemia: medidas que podem ser revistas, acrescentadas ou subtraídas, conforme evolui a situação.”
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