Depois da novela Pedro Nuno Santos e a iminência da sua demissão, a construção do novo aeroporto de Lisboa continua a dar-nos episódios estranhos e, nalguns casos, inexplicáveis. O Governo parece determinado a trazer o PSD para a discussão, o PSD parece decidido a não dar a sua opinião e a sair da fotografia, o Governo não parece querer avançar sozinho. Como se explica isto tendo em conta o relativo consenso nacional em torna da necessidade de uma nova infraestrutura?
“Como há tanto tempo, está tudo enredado em politiquices e manobras de corte. Ninguém está a fazer aquilo que é preciso fazer, que é tomar uma decisão e avançar com a obra. Andam todos a tentar comprometer-se uns aos outros, a fazer com que os outros fiquem mal na fotografia e ninguém está realmente a trabalhar na solução”, aponta Tiago Freire, diretor da EXAME.
Luís Montenegro reuniu esta semana com António Costa, tendo o primeiro-ministro dito que o aeroporto ocupou apenas “uma pequena parte da reunião”. Dias mais tarde, o recém-empossado líder do PSD disse que não iria ceder a “pressões” e que essa decisão cabe ao Governo, adiantando que o partido está a organizar uma série de audições com especialistas e organizações. Não revelou se tem alguma preferência.
“O PSD tem zero ideias para o aeroporto e quanto a um plano estratégico para as infraestruturas aeroportuárias em Portugal”, refere o jornalista da VISÃO. “A única coisa que o PSD tem, e é de um passado do qual talvez não se deveria de orgulhar, é o de ter deixado uma resolução à beira das eleições legislativas de 2015, que punha Montijo na equação como resolução do problema. Desde então, não se conhece ao PSD nenhuma solução para este problema que se agrava, ainda mais depois da pandemia e da recuperação do tráfego aéreo. O Governo parece apostado em explorar essa fragilidade.”
O tema não é apenas político, como lembra Tiago Freire. Este atraso “é dramático para a economia nacional”. “E é dramático há muitos. Não é irrelevante o processo atrasar mais um ano”, acrescenta.
Neste OLHO VIVO discutimos também o impacto da redução de consumo de gás natural na União Europeia, em específico a posição portuguesa, que recusou inicialmente a proposta da Comissão Europeia (corte de 15%), acabando por aprovar um acordo com uma série de isenções e derrogações que se traduzirão numa redução muito inferior para Portugal. O principal motivo? Portugal (e Espanha) não ter ligações energéticas com o resto da Europa, ter uma baixa dependência de energia russa e uma situação grave de seca que nos faz necessitar de gás natural para a produção de energia elétrica.
“Os argumentos portugueses fazem sentido. Nós estamos com uma postura apenas de solidariedade: os outros estão a sofrer e nós, que não os podemos ajudar, estamos dispostos a sofrer também um bocadinho, mesmo que isso não diminua a dor dos outros. Mas este plano europeu não é espetacular. Em primeiro lugar, não vai ser cumprido. Segundo, mesmo que seja cumprido, não vai resolver”, sublinha Tiago Freire.
O acordo foi positivo? “Esta discussão em Bruxelas sobre o gás na Europa é o exemplo de que cada Estado-membro está a agir cada um por si, mas também a prova de que as lideranças europeias foram surpreendidas quanto à duração do conflito na Ucrânia e os efeitos das sanções que aprovaram”, refere Nuno Ropio.
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