Faz hoje precisamente duas semanas que o mundo mudou. A Europa deixou de ser um continente da paz, e a guerra voltou estalar, arrasando muito do que conhecíamos antes a um ritmo vertiginoso.
“A data vai entrar para a História como um acontecimento disruptivo, o mais importante a seguir aos ataques às Torres Gémeas, em 2001, que nos trouxe uma nova ordem mundial, onde a segurança não é garantida, e onde a Rússia é um estado Pária – o mais sancionado, e isolado, do mundo”, enquadra Mafalda Anjos.
Que efeitos terá este conflito, que muitos já vêm como uma terceira Guerra Mundial, para a Europa? Que consequências sofrerá Portugal? “Esta guerra não será rápida, não será localizada e nem leve. O mundo está a começar a perceber que o que tínhamos antes mudou, e que vamos todos sentir os impactos deste conflito e das sanções impostas à Rússia”, diz a diretora da VISÃO.
Sem querer envolver-se diretamente num conflito armado, a União Europeia e os Estados Unidos optaram pela via das sanções económicas. O problema nessa gestão é que há ritmos diferentes. “O ritmo da guerra é medido em dias e em semanas, mas estas sanções e corte de relações comerciais podem demorar meses ou anos”, aponta o jornalista Nuno Aguiar. “Mesmo que muitas das sanções recuem quando a guerra terminar, as empresas ocidentais demorarão a regressar, assim como a restabelecer os seus laços.” Os portugueses e o resto dos europeus devem preparar-se para que os preços se mantenham elevados durante muito tempo. “Essa será a consequência mais direta para a economia portuguesa”, acrescenta.
“Quando vemos que, perante uma ameaça externa, países com governos eurocéticos como a Polónia e a Hungria parecem reagrupar em torno do projeto europeu e da União Europeia, percebemos que algo está a mudar na Europa. Também a descoberta da necessidade de uma política de Defesa comum e de maior investimento nesta área poderá trazer muitas mudanças”, sublinha Filipe Luis. “Hungria e Polónia, que recusavam refugiados de outras paragens, abrem as portas aos ucranianos. E isto não se explica apenas pela identificação cultural: o perigo representado por um inimigo comum tem aqui papel preponderante. Hoje é a Ucrânia, amanhã podemos ser nós…”
Para a Europa, este pode ser mais um momento de viragem para a integração económica, tal como aconteceu com a Covid-19. “Se, com a Covid-19, argumentámos que a nossa saúde estava em risco, o que dizer agora que é a nossa segurança e soberania que estão em causa?”, questiona Nuno Aguiar. Começam a surgir alguns sinais de que este momento será também visto como excepcional. “Coisas que se julgavam impensáveis foram feitas durante a pandemia. Agora, é possível que isso volte a acontecer. Já há alguns sinais, com a suspensão por mais um ano das regras orçamentais e as notícias de que poderão ser feitas novamente emissões conjuntas de dívidas.”
Ao nível nacional, a guerra terá também impacto. Não tanto diretamente na economia, mas por via indireta. “E há grande curiosidade em saber-se até que ponto irá o investimento – e a percentagem do PIB – na área da Defesa, no novo Orçamento que aí vem. E para saber quem será o detentor da pasta, no novo Governo”, diz Filipe Luis.
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