O Olho Vivo desta semana faz o rescaldo das Eleições Legislativas 2022, depois de uma campanha que foi quase como uma montanha russa, com altos e baixos, loops e reviravoltas e muita, muita emoção.
“Contas feitas ao voto dos portugueses, António Costa ganhou a maioria absoluta que pediu, mas que já não acreditava ser possível, e Marcelo Rebelo de Sousa livrou-se do berbicacho da ingovernabilidade e ganhou outro: o de fiscalizador de um primeiro-ministro com a faca e o queijo na mão”, diz Mafalda Anjos, diretora da VISÃO. ”
Como chegámos aqui, eis a questão. “Não me parece que as sondagens que davam uma aproximação entre os dois partidos tenham errado redondamente. Não conseguiram antecipar como seria o voto dos indecisos – e estudos mostram que 7,5% do eleitorado decide apenas no dia das eleições e 8% naquela semana – nem o seu próprio efeito nos resultados e o voto útil que se seguiria”, acrescenta, sublinhando que este voto útil “funcionou à esquerda e não à direita”.
Filipe Luís, editor-executivo da VISÃO, concorda. “António Costa, na campanha, conseguiu falar para o eleitorado do PCP e do BE ao mesmo tempo que dizia que a geringonça já não lhe inspirava confiança. isto foi um claro apelo ao voto útil, que funcionou, enquanto Rui Rio, ao dizer que quem não quisesse votar PSD que votasse CDS, ao incluir antecipadamente a IL no Governo e ao não descartar, sem ambiguidades, o Chega, perdeu esse voto útil”, explica.
“Segunda-feira foi, para muitos, o Dia dos Arrependidos: houve quem votasse no PS mas que, provavelmente, não o faria se soubesse que haveria uma maioria absoluta. Mas a democracia é assim mesmo”, diz Mafalda Anjos.
Um António Costa absoluto, mas não absolutista é possível? “A maioria absoluta de António Costa será uma maioria absoluta como as outras, não terá nada de fofinha… Mas uma das formas de Costa causar uma primeira boa impressão, dando um sinal de diálogo, é a de concordar com o regresso dos debates quinzenais, com a presença do primeiro-ministro, no Parlamento”, diz Filipe Luís.
Se uma maioria absoluta do PS evitou uma incógnita, quanto à estabilidade governativa de uma solução negociada à esquerda ou à direita, espera-se agora que os parceiros sociais se tornem mais exigentes, principalmente aqueles que usam as ruas para o fazer. Para Nuno Miguel Ropio, “perante o expectável aumento da conflitualidade social, habitual quando há maiorias absolutas, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente dos afetos, já deve estar a preparar nos últimos dias um stock de abraços e beijinhos”, face ao papel que poderá assumir ao dar voz a patrões e sindicatos descontentes.
Ao Presidente da República caberá um papel mais interventivo e fiscalizador, e encontrará formas criativas de exercer o seu papel e o seu magistério de influência. E teremos, é certo, mais conflitualidade nas ruas, “que deixaram de ser um exclusivo da intersindical e do PCP”, nota Filipe Luís.
Numa quinta-feira em que Rui Rio analisa com o seu núcleo duro o que correu mal nas legislativas, o Olho Vivo fez uma radiografia à estratégia seguida pelo líder do PSD; e a nota não foi positiva. Nuno Miguel Ropio apontou o social-democrata voltou a cometer os mesmos erros de outubro de 2019, entre os quais a clareza sobre as soluções que defende para o País. “Rui Rio não leu o seu próprio programa de Governo, permitindo que António Costa cavalgasse essa falha na última semana de campanha”, disse.
Sobre a terceira força política eleita para o Parlamento, Nuno Miguel Ropio não tem dúvidas: “O Chega é um túnel escuro que não sabemos onde vai dar. É imprevisível o que sairá dali “. Para o jornalista, a oposição será, enquanto o PSD não se reorganizar, liderada por João Cotrim de Figueiredo da Iniciativa Liberal.
“O Chega na Assembleia da República é um túnel escuro do qual não se sabe o que poderá sair dali”, defendeu, por outro lado, Nuno Miguel Ropio, perspectivando que, à falta de um líder da Oposição face ao processo de sucessão que se segue no PSD durante os próximos meses, o líder da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, “pode assumir esse papel” e marcar pontos.
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