Faltam três dias para as eleições e a tensão sente-se no ar. Esta é a corrida eleitoral mais imprevisível deste século: não há favas contadas, está tudo em aberto.
“Nas últimas duas semanas vertiginosas tivemos de tudo: sorrisos e animais de estimação fofinhos, erros e tiros nos pés, mudanças de estratégia, diabos e fantasmas, voltefaces, empates técnicos, acusações de campanhas negras. Ainda dizem que a política é monótona…”, diz Mafalda Anjos, diretora da VISÃO. “O que nos espera a 30 de janeiro ninguém sabe. E em Belém, por estes dias, já se deve estar a fazer contas ao tamanho do berbicacho que pode sair da noite eleitoral”, acrescenta.
As circunstâncias mudaram bastante. Numa semana, o PS passou de 10 pontos de vantagem para um empate técnico, e até mesmo para sondagens em que o PSD segue à frente. “Em duas semanas, vimos duas versões de António Costa: passámos de um Costa orgulhosamente só em busca da maioria absoluta, para um Costa conciliador absolutamente disponível para conversar. As sondagens que deram um empate entre PS e PSD foram o sinal de alarme”, diz Mafalda Anjos.
“António Cosa teve três momentos, nesta campanha. De início, pedia uma “maioria estável” para Governar. Depois, quando as sondagens lhe davam larga vantagem, tentou dramatizar e pedir uma maioria absoluta, já usando a palavra ‘absoluta’. Agora, diz que falará com todos. Mas esta nuance é interessante: ‘Com todos, exceto o Chega’. Ou seja, até a IL está incluída… Não fala em específico da geringonça… Portanto, ganhando as eleições, António Costa tudo fará para continuar a governar“, diz Filipe Luís.
Para o editor de política da VISÃO, “a ambiguidade do PSD relativamente ao Chega, nos cenários pós-eleitorais, é premeditada”. “Por vezes, alguns responsáveis do PSD, como Salvador Malheiro, asseguram que, em circunstância alguma, haverá qualquer espécie de conversação com o partido Chega. Ouras vezes, há responsáveis que dizem que o voto popular é que decidirá isso – e Rui Rio nunca deu quaisquer explicações, preto no branco. O PSD quer deixar em aberto todos os cenários.”
Mas a questão do Chega, mesmo que o PSD ganhe e que uma maioria de direita só se faça com André Ventura, nem sequer se vai pôr, num primeiro momento. “Caso o PSD ganhe, Rui Rio formará sempre governo, porque António Costa vai-se embora – e nenhum sucessor seu aceitará ser primeiro-ministro sem ir a eleições. O trauma Santana Lopes está muito presente. Portanto, o PS viabilizará o primeiro Orçamento do PSD – e o Chega não será preciso para nada“, explica Filipe Luís.
Rui Rio parece incomodado com os ataques do PS ao seu programa eleitoral, classificando-os como uma campanha negra. “Não me parece que a caracterização que o PS está a fazer da posição de Rio sobre salário mínimo e SNS seja totalmente a mais justa, mas esses exageros fazem parte da campanha. O PSD também o faz com medidas do PS e de outros partidos”, refere o jornalista Nuno Aguiar. “Rui Rio está irritado porque achava que podia passar a campanha toda sem explicar nada e só a tirar fotos ao gato.”
As eleições de dia 30 irão testar a capacidade de entendimento da política nacional. Os sinais não são os mais positivos. “O nosso sistema político está a evoluir mais rápido do que os nossos líderes. Está a fragmentar-se e a europeizar-se, mas o espírito negocial não está a acompanhar”; aponta Nuno Aguiar. “Temos um Partido Comunista forte (o que já é raro na Europa), um BE e PS com relações, até pessoais, difíceis, um PS que tenta esvaziar os partidos à sua esquerda, um PSD que tem à direita um elefante chamado Chega e um partido liberal que, em vez de estar ao centro, se assume como anti-socialista. Se continuamos a ter dois blocos marcados, à esquerda e à direita, há mais responsabilidade para que os partidos dentro desses blocos se entendam.”
Nas notas finais, na rubrica “Debaixo de Olho”, esteve ainda em destaque o livro “Fascismo, Um Alerta”, de Madeleine Albright no Dia Internacional de Lembrança do Holocausto, a subida de juros no horizonte pela Reserva Federal norte-americana e o caso de Armado Vara.