O Presidente da República ouviu ontem o Conselho do Estado e hoje à noite anuncia ao País a data das eleições antecipadas. O tema, que esteve em debate no Olho vivo desta semana, transformou-se num terreno de batalha política: a data das eleições permite leituras distintas sobre se a escolha dá ou não vantagem à direita ou a certos candidatos dentro da direita.
Quem decidirá e terá de acatar com as responsabilidades e consequências será Marcelo Rebelo de Sousa, como cabe ao Chefe de Estado, sendo certo que qualquer que venha a ser a decisão – agendar para “logo, logo, logo” ou esperar para depois de 23 de janeiro -, será criticada por um dos lados da barricada.
“Marcelo poderá ser criticado por ajustar a data das eleições ao calendário do PSD. Mas o PSD é o partido que pode ser alternativa de Governo e convém que se apresente em condições. O que é importante para o PSD é importante para o País”, afirma Filipe Luis. “Ninguém sabe se, desta vez, a dissolução da Assembleia e a marcação de eeições resolve o problema. Se Marcelo não tivesse anunciado, antes, e o Orçamento tivesse chumbado, António Costa ter-se-ia demitido e o ónus de eleições era dele. Assim, é Marcelo quem se responsabiliza… Ele vai ser a figura política central dos próximos tempos”, acrescenta.
Se à esquerda se entretêm a atirar culpas uns aos outros sobre a autoria da crise política, a Direita entrou numa incompreensível autofagia. “Chegado o seu momento para poder chamar a si os holofotes, embrulha-se num show de baixa política. Em vez de ajudarem a drenar o pântano, atiram mais uns contentores de lama”, diz Mafalda Anjos.
À direita, os líderes do PSD e do CDS enfrentam oposição interna e tentam escapar a eleições a poucos meses de o país também ir a votos. Pode ser um contexto difícil de engolir. “Rui Rio fez a sua travessia pelo deserto, tem uma vitória inesperada em Lisboa e, quando começa a cheirar a viragem do ciclo político, é-lhe tirado o tapete”, aponta o jornalista Nuno Aguiar, notando no entanto que não havia outra opção que não fosse abraçar esse esclarecimento da liderança do partido. “Um líder não pode fugir ao confronto interno, sob pena de ir fragilizado a eleições. Fugir ao escrutínio dentro partido é terrível em termos de perceção, por mais injusto que seja. Se não consegue ganhar o partido, vai ganhar o País?”, questiona. Mafalda Anjos reforça: “Quem não consegue a legitimidade interna, não pode esperar conseguir a legitimidade externa”.
O que vem aí depois das eleições legislativas antecipadas, eis a questão. Estará o Presidente da República preparado para um longo impasse, como acontece um pouco por toda a Europa (vide Espanha, Holanda, Bulgária)? “Ninguém sabe se, desta vez, a dissolução da Assembleia e a marcação de eleições resolve o problema. Se Marcelo não tivesse anunciado, antes, e o Orçamento tivesse chumbado, António Costa ter-se-ia demitido e o ónus de eleições era dele. Assim, é Marcelo quem se responsabiliza… Ele vai ser a figura política central dos próximos tempos”, diz Filipe Luis. “O eleitorado exige agora dos políticos mais do que um estilo de agressivo de confronto como os velhos parlamentares. Exige maior capacidade para conversar, reunir consensos, assumir compromissos, fazer pontes“, sublinha Mafalda Anjos. “Os políticos deste tempo devem conciliar firmeza com maleabilidade. O único que o conseguiu foi, sempre, Mário Soares. Por exemplo, foi firme no objetivo da adesão europeia e maleável a fazer o Bloco Central, para conseguir atingir esse objetivo.”
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