Ao final de sete dias em que a investigação criminal deu provas de empenho, com duas detenções famosas que foram submetidas a várias horas de espera até serem interrogadas, o diretor-executivo da VISÃO, Rui Tavares Guedes, defendeu que “estamos perante um grande teste à Justiça nacional, não por ser em concreto o presidente do Benfica, não por ser o comendador Berardo, mas por, de facto, estes processos só ocorrerem com personagens muito mediáticas”.
“Não sei se o mesmo método vai ser aplicado em relação a outras pessoas que passaram pela comissão de inquérito [ao Novo Banco], como Moniz da Maia ou Nuno Vasconcellos”, disse, no Olho Vivo, programa de análise da atualidade nacional e internacional, alertando para o risco que existe quando ” a Justiça faz muito barulho e os processos se prolongam”, e para “o endeusamento dos super juízes”, como Carlos Alexandre.
Quanto aos efeitos políticos da detenção do líder das Águias, Tavares Guedes apontou também que “André Ventura já percebeu que Luís Filipe Vieira é um ativo tóxico para a sua campanha e para ele próprio”, tendo em conta a forma como reagiu à ação do Ministério Público. “Seria um daqueles casos em que André Ventura andaria a gritar por ‘vergonha’ e agora não o fez”.
Para Filipe Fialho, editor da secção de Internacional da revista VISÃO, “é verdade que a justiça pode ter seríssimos problemas, por não saber gerir os tempos mediáticos”. Mas, “a mensagem que os atores da Justiça têm de fazer passar à opinião pública é que, perante lei, somos todos iguais”. Mesmo que “o preço que temos a pagar seja esperar um pouco [pela conclusão de inquéritos] e aguardar o arrastar destes processos”.
Aliás, Filipe Fialho sinalizou que, mais do que falar de “super-juízes”, como Carlos Alexandre, “estamos, talvez, na altura de falar de super-advogados e super-gabinetes de advogados”. “Obviamente que, sozinho, Luís Filipe Vieira não conseguia desviar e angariar contratos de 100 milhões de euros”, se não tivesse tal ajuda especializada.
Já para Nuno Miguel Ropio, jornalista da secção Política da VISÃO, “a primeira questão que se coloca é qual a razão para que a investigação criminal no País continue a agir desta forma tão aparatosa e mediática em relação a determinados processos, que depois, ou quando chegam à fase de instrução, como o foi o caso da Operação Marques, ou já em julgamento, como foi o desmontar da acusação contra o ex-ministro Azeredo Lopes no caso do roubo das armas de Tancos”, não correspondem às expetativas.
“Parece existir, aqui, uma necessidade de prova de vida do Ministério Público e dos seus apoios na investigação criminal – Polícia Judiciária, PSP, etc – que, depois do balão encher, tende a não manter o mesmo registo e consistência quando o Segredo de Justiça cai e se percebe que o aparato pode não se traduzir efetivamente numa acusação consistente e inquestionável quanto à sua eficácia e a possibilidade de acabar em condenação”, acrescentou, lembrando que no caso de Tancos, “agora há uma assunção por parte do procurador que afinal não há provas consistentes contra Azeredo”, depois de o antigo governante ter sido obrigado a demitir-se.
“Vacinação tem de estar no centro de tudo”
Numa quinta-feira, em que houve uma nova reavaliação do boletim epidemiológico por parte do Conselho de Ministros, e com um ano e meio depois do começo da pandemia, em que os números de infetados estão a aumentar de novo a olhos vistos e já se fala de uma quarta vaga, Rui Tavares Guedes defendeu que “a vacina tem de estar no centro [das prioridades], no sentido em que uma pessoa vacinada não deve voltar a estar confinada, porque se não acreditamos nisso nada vale a pena”. “Temos a situação mais ou menos descontrolada em numero de casos, mas não em numero de mortos e internamentos em Cuidados Intensivos”.
“Ninguém sabe como isto vai acabar, mas temos de dar passos para isto acabar – entre eles, vacinar todos os anos. É preciso pôr a vacinação no centro do combate”, disse, tal como Filipe Fialho.
“A pandemia continua a acelerar. A Europa deveria olhar para este números, e perceber que a vacinação não está no centro das preocupações”, disse o editor de Internacional, que abordou ainda a recente declaração da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, sobre a necessidade de a Hungria cumprir os princípios democráticos da Europa e a crítica à legislação persecutória húngara que visa os cidadãos LGBTIQ.
“Isto [incumprimentos da Hungria] vai continuar e a prova é que a famosa legislação entrou em vigor hoje. Aquilo que muitos chamam de posição de força [de Von der Leyen] não é uma posição de força – é mais uma vez retorica”, admitiu.
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