Grandes governos mostram resultados, governos bons mostram trabalho, governos medíocres gabam-se do dinheiro que gastaram e governos péssimos ficam-se pelos planos.
Prometer é fácil. Prometer com maioria absoluta, mais fácil ainda. Se há coisa que o PS faz sem olhar a meios é distribuir promessas, algo que fica sempre bem para efeitos de propaganda. Mesmo sabendo que nunca irão ser concretizadas.
Isto fica evidente no II Plano Nacional para a Juventude (II PNJ), recentemente anunciado com pompa e circunstância. Promete-se tudo: melhorar rendimento, facilitar o acesso à habitação, promover a cultura. Tudo para “fixar jovens em Portugal”. Como se este Governo não estivesse a afugentar do País aquela que é considerada a mais bem preparada geração de sempre, condenando-a à emigração para encontrar trabalho bem remunerado e condições de vida próximas dos padrões médios europeus.
Este plano repete aquilo a que o PS nos habituou: embrulha tudo com declarações pomposas para melhor iludir os jovens. Acena com a promessa de “combater o declínio demográfico e o despovoamento do interior”. Garante que vai lançar “incentivos ao empreendedorismo”. Promete, finalmente, maior “qualidade de vida” a quem ingressa agora no mercado de trabalho. Nem parece que está há sete anos ininterruptos no Governo. Nem parece que ocupou o poder em 20 dos últimos 27 anos.
Prometer é fácil. Daí a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares anunciar agora um plano com 425 medidas. Em quantidade certamente muito superior ao I PNJ, de 2018, que era mais comedidozinho: tinha apenas 247 medidas. Encher papel parece ter-se tornado a preocupação dominante. Fará sentido aumentar em 70% as medidas anunciadas quando a execução do plano anterior ficou abaixo dos 80%?
O II PNJ parece uma lista de compras. Pegou-se em toda e qualquer iniciativa, venha donde vier, que roçasse minimamente o tema da Juventude, e tentou-se encaixar tudo nos objetivos da declaração Lisboa+21, como se fossem crianças a brincar com plasticina. Sem uma preocupação estrutural de base, sem organização coerente, uma mera acumulação de boas intenções para efeitos de marketing político.
Um exemplo: para combater a “precariedade jovem” propõem-se novas contratações para a administração pública. E anuncia-se dinheiro em cima da mesa (neste caso três mil milhões de euros, 44% dos quais de fundos europeus) também para efeitos de retórica política. Quando é sabido que este ministro das Finanças, aliás na linha do anterior, faz das cativações uma prioridade absoluta, transformando o Orçamento do Estado numa peça de ficção.
Muita despesa, pouco investimento, escassa capacidade de execução: assim pode resumir-se a linha de rumo do Governo, também na área da Juventude.
No domínio da habitação, por exemplo. O Porta 65, programa de arrendamento jovem que o Executivo socialista divulgou com parangonas logo em 2016, falhou nos seus propósitos, afogado em burocracia despropositada. Só cerca de 56% dos jovens inscritos receberam resposta positiva em 2021: 11.052, entre 19.651 candidatos. Os restantes 8.533 viram o pedido recusado por “desconformidade ou falta de dotação”.
No apoio aos estudantes, o Governo falha também. Há cerca de 200 mil deslocados dos seus lugares de origem para frequentarem estabelecimentos do ensino superior. Muitos enfrentam cada vez mais dificuldades para conseguirem acesso a residências estudantis ou quartos particulares a preços acessíveis. Isto enquanto o Estado é incapaz de inventariar o seu parque habitacional que deveria ser reservado para este efeito, algo ainda mais urgente quando enfrentamos um brutal aumento do custo de vida.
Outro mito que não passa de propaganda é o da dinamização do associativismo jovem. Segundo a Federação Nacional das Associações Juvenis, que representa cerca de 500 mil associados, todo este sector foi duramente atingido durante a pandemia quando deixou de receber os habituais financiamentos do Estado e dos municípios, enfrentando sérias dificuldades. Criar uma associação juvenil continua a ser um processo extremamente burocrático, antiquado face à espontaneidade que caracteriza os jovens da Gen Z.
O Parlamento Europeu proclamou 2022 como Ano Europeu da Juventude. Em Portugal, infelizmente, os jovens continuam sem espaço de autonomia nem liberdade para dar largas aos seus sonhos. Triste evidência neste que é o país da Europa onde os jovens saem mais tarde da casa dos pais: 34 anos é, entre nós, a idade média de autonomia familiar. Quando na Suécia isso acontece aos 19 anos e a média comunitária está fixada nos 26,5 anos.
O Governo gosta de proclamar a igualdade. Mas o salário médio entre os jovens do sexo masculino e feminino, entre os 20 e os 24 anos, é muito diferente: 979 euros nos homens, 906 para as mulheres. Chocante pela disparidade entre sexos. Mais chocante ainda por ser tão baixo: a preços constantes, o salário médio de um jovem licenciado é hoje 17% mais baixo do que no início da década passada.
Infelizmente, apesar da poeira da propaganda, pouco se vê no II PNJ que combata com eficácia o desemprego e trave a emigração. Em Portugal, pela primeira vez, nasceram em 2021 menos de 80 mil bebés num ciclo anual, confirmando que os apoios à natalidade anunciados pelo Governo não passam de miragem. Queremos ter filhos em Portugal? Queremos ter uma casa para os criar? Eu quero. Já basta de viver das migalhas do assistencialismo socialista. O panorama para os jovens portugueses continua cinzento, nos idos daquele a que chamam Ano Europeu da Juventude.
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