No debate na Assembleia, António Costa mostrou-se contido, muito bem treinado, e capaz de desviar todos os tiros políticos da oposição. O PM conseguiu o que queria. Tornar a ação do SIS aceitável, legal, e em defesa da segurança nacional. Melhor era impossível, e a oposição rapidamente percebeu isso.
O primeiro-ministro está noutra. Farto de sobressaltos, de chatices, e de problemas no Governo. É visível que não resulta um debate parlamentar com um PM desligado. Tem a maioria parlamentar, adivinhava as perguntas, e estava focado no autocontrolo. Não se irritou, não disse mais do que queria, e não estava disponível para o combate.
Assim é fácil, mas não vai durar. António Costa sabe que em política não há assuntos fechados. O SIRP e o SIS não vão desaparecer, há uma investigação sobre as confusões no gabinete ministerial, e o Presidente da República foi desafiado. Para estarem certas, as contas terão de ser ajustadas, e cabe agora ao PM apaziguar Belém, onde reside o único Poder que o pode arrasar.
Saindo-se bem do debate, António Costa, com o Governo todo presente, confirmou que é o político mais experimentado de Portugal. Nunca ninguém conseguiu estar tanto tempo, consecutivo, e a contar, em cargos políticos eletivos. E isso percebe-se. Vem ao de cima. O único problema que poderá colocar-se, numa exceção como esta, é perder-se a noção da realidade, e da humildade. E isso é perigoso e destrutivo.
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