A Rússia, de uma forma explícita, está a normalizar a possibilidade de uso de armas nucleares na Ucrânia, ou na Europa, e essa aceitação do «impensável» já faz parte, lá no fundo, de uma inevitabilidade desta guerra. Este conceito, e a sua demonstração, foi abordado por um dos melhores especialistas em estratégia nuclear, e na política russa, o professor Dmitry Adamsky, num artigo publicado na «Foreign Affairs».
«A guerra nuclearizou o pensamento estratégico russo e normalizou as armas nucleares na consciência do público». Para Adamsky, «essa retórica nuclear beligerante recorrente – oficial e não oficial – corroeu o tabu nuclear». O impensável passa a ser possível, aceitável e admissível. E tudo se agrava quando toda a estratégia militar assenta nessas armas.
Medvedev voltou a agitar o arsenal nuclear, se os F-16 chegarem à Ucrânia, e essa possibilidade está a tornar-se normal no subconsciente europeu e americano. É a vulgarização do apocalipse, sendo que haverá sempre uma forma de racionalizar o seu uso. Se for só a nível tático, até se compreende.
Adamsky invoca que os «especialistas nucleares ficaram chocados com a insuportável leveza do uso do arsenal nuclear, entre a população russa», e isso leva-nos, em sua opinião, a um cenário ainda mais perigoso: «se a Rússia experimentar instabilidade civil e militar, as chances de uso nuclear não autorizado podem aumentar».
(Salvo o extraordinário exagero, esta normalização nuclear equivale ao uso do SIS em tarefas «corriqueiras». Passou a ser aceitável)
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