A verdadeira história ainda não está contada, mas foi na madrugada de 24, há um ano, que Volodymyr Zelensky, a sua mulher Olena, e os dois filhos, viveram a noite mais longa e perigosa das suas vidas. Estavam na residência presidencial, sabe-se, protegidos pela segurança e tropas ucranianas, mas sem grandes meios defensivos.
Zelensky, ao longo de 2021 e início de 2022, tentou sempre desvalorizar as informações americanas, britânicas e alemãs, que davam como iminente uma invasão russa em grande escala. Se acreditava não dizia, e os seus comentários, pacificadores, dirigiam-se sempre a Moscovo e a Putin. «Nós os dois podemos resolver isto», dizia, e foi repetindo o apelo já com a operação militar em curso.
Com as primeiras explosões, e colocado em segurança num bunker, apesar da proximidade de forças militares russas, o presidente Zelensky toma a decisão que o colocará na História do seu país, da Europa, e do mundo: não aceita a sugestão de Biden para abandonar Kiev, e pede armas. Forças especiais americanas estavam em Kiev, na embaixada, para proteger os seus diplomatas, e tinham meios e capacidade para retirar a família presidencial ucraniana da capital.
«A guerra é aqui. Preciso de munições, e não de uma boleia de avião!» Esta declaração marca o princípio do fracasso militar russo, e desencadeia a resistência e coragem que os ucranianos colocaram na defesa do seu país. Zelensky transformou-se num soldado, envergando uma simples farda, sem galões nem estrelas, que consegue iniciar a construção da maior aliança de ajuda militar alguma vez vista, estabelecendo as fronteiras do seu país como a linha que divide a democracia e a liberdade, da autocracia nacionalista e ditatorial.
Aos poucos, passo a passo, a longa noite de Zelensky deu lugar a dias de grande coragem e sacrifício dos ucranianos, que nunca deixaram de ser fortemente apoiados pela Europa, pela NATO, e por países de outros continentes. Londres e Washington lideraram as primeiras vagas, e os «javelins» e «drones» turcos começaram a ser reforçados e trocados por muitas das mais modernas armas e equipamentos ocidentais. E um ano depois, espantosamente, e contra uma potência mundial, a Ucrânia prepara-se para alcançar uma vitória militar.
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