A ainda secretária de estado do Tesouro e a TAP já passaram a fronteira entre o aceitável e o politicamente inadmissível. O meio milhão que Alexandra Reis recebeu deveria ter sido explicado em 5 minutos, depois da notícia se conhecer, e eventualmente o assunto teria morrido por aí. Se está tudo bem, de acordo com os termos do contrato e do acordo, qual é a dificuldade em divulgar os documentos? Se existiam cláusulas de confidencialidade, elas caducaram com esta explosão política e presidencial. Aliás, a secretária de Estado até deu um contributo notável para se perceber como funciona a nossa TAP. Não tivesse ido para o Governo, e e tudo estaria arquivado, guardado, esquecido. Que atrevimento!
A explicação pode tardar o tempo que bem entenderem, para gerir danos, mas a secretária de Estado do Tesouro deixou de ter a confiança política dos portugueses, como se percebe, do Presidente da República, e também do primeiro-ministro, que não esperava por esta, nos últimos momentos de um ano tenebroso.
Em 72 horas era um absurdo de comunicação não aparecer o acordo e a explicação para os 500 mil euros, que a própria sentia serem devidos e corretos, e que a TAP disse que cumpriu a lei. E sendo assim, mais uma razão para não ter existido um atraso na divulgação. Quando dois ministros pedem esclarecimentos à TAP, a pedido do PM, o caldo está entornado. Não há condições políticas para Alexandra Reis se manter no cargo. E isso confirmou-se agora: a injeção de quase mil milhões na TAP, que teria de acontecer nesta última semana do ano, teve de ser despachada pelo próprio ministro, e não, como seria natural, pela secretária de estado do Tesouro.
Ou ela renuncia, repetindo o que anunciou a TAP no início do ano, ou é demitida, presume-se. Mas é só presunção e água benta. É pena. É mais uma remodelação que poderia ser evitada. Esta sucessão de casos no Governo agrava o sentimento de fim de ciclo, e de esgotamento político e popular. É insólito. Só agora começaram os últimos quatro anos.
Merecida atualização: Alexandra Reis exigia 1.4 milões de euros (é esta lata que a «matará» politicamente), a TAP sentiu-se bem a pagar apenas um ano de salários, mais uns trocados para atingir os 500 mil, e os funcionários da TAP, e os portugueses ficaram confortados e agradecidos com os 350 mil euros/ano que a TAP paga a cada administrador.
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