A maioria da população russa, de acordo com sondagens internas do Kremlin, está farta da guerra contra a Ucrânia, e do peso das sanções económicas. Já ninguém alinha na fantasia de uma «operação especial», as mães e famílias dos soldados russos estão revoltadas com a total falta de condições dos seus filhos-soldados, que vão agora enfrentar o mais um temível inimigo, e os comentadores e jornalistas pró-Putin começam a questionar as decisões do presidente.
Os russos estão desconcertados e profundamente perturbados. Já não querem ouvir as homilias de Putin, que pouco tem aparecido, e deixaram de acreditar no poderio das suas forças armadas, cada vez menos capacitadas para a guerra em que se meteram. A estratégia de destruir as fontes de energia está a ter um grande impacto em toda a Ucrânia, que está a ser ajudada por todos os aliados, mas essa extrema dificuldade também se faz sentir nos territórios ocupados pelos russos, e na Crimeia.
Há, apesar de tudo, uma diferença: os ucranianos estão a trabalhar, dia e noite, para refazer os estragos, e a receber centenas de geradores, para aguentar todos os sistemas críticos, e o bem-estar da população no Inverno, mas o mesmo não está a acontecer com milhares de soldados russos no Donbass, mal equipados e preparados para resistir à queda brutal das temperaturas.
O temível poder do general Inverno, de que tanto se orgulhou a Rússia na destruição dos grandes exércitos de Napoleão e Hitler, começa, afinal, na Ucrânia. Ou seja, os russos, desta vez, terão de combater em duas frentes, sendo que em nenhuma delas estão resguardados. Teme-se o pior, e os cidadãos russos sabem bem o que isso é.
Tal é a agitação, por toda a Rússia, que já começaram a circular, nos meios ocidentais, as teses do mal menor: antes Putin, do que um presidente ainda pior. Sem Putin, a Rússia vai desfazer-se. De onde vêm estas teorias? De Moscovo, claro, e de alguns amigos que até integram a Aliança Atlântica e a União Europeia. O habitual, nas fases terminais.
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