Paulo Raimundo é o 4º líder do PCP em democracia, e o 7º desde a fundação do partido, em 1921. É uma linhagem assinalável e notável. Bom ou mau? O Partido Comunista Português não pode ser analisado pelas tradicionais métricas políticas e partidárias. É muito mau para quem gosta de mudanças permanentes de liderança, ditadas por resultados eleitorais, ou estudos e estados de opinião, mas bom para quem segue uma linha que tem um princípio, um meio, e um fim. Independentemente do líder, ou da ocasião, sabe-se sempre de que lado está o PCP. Não se perde, não se dissipa, não se despista. Tem dias, contudo.
Jerónimo de Sousa, que o eleitorado não conhecia antes de ser secretário-geral – tal como agora, com Paulo Raimundo – sempre foi um homem suave, de palavra, e sem matreirice política. Quando, em nome do partido, dava a sua palavra, nunca falhava o compromisso. Essa estabilidade marcou o percurso do líder que agora saiu. Como dos anteriores. E dos próximos.
O PCP foi encostado à parede pela maioria absoluta do PS, mas resistiu melhor do que o Bloco de Esquerda a esse «vento forte». Onde se estatelou, e ainda está sem rumo, foi no seu apoio aberto, e depois velado, à guerra de Putin contra a Ucrânia. Ninguém percebeu, nem percebe. Putin é um nacional fascista sem escrúpulos, nem dó, e reside, ideologicamente, no polo oposto ao dos comunistas.
O que falta, então, ao PCP, um dos últimos da sua espécie? Não é difícil de adivinhar, e esse percurso está a ser feito por esse mundo fora: reganhar as gerações mais novas, mais qualificadas, e mais empenhadas. O muro democrata à «onda vermelha» trumpista foi construído com a votação maciça de jovens americanos, estudantes e ativos, mas descomprometidos com o radicalismo da nova esquerda. Esta faixa etária, eleitoralmente muito valiosa, não se alimenta de ideologias, ou de compromissos, mas de causas e atitudes. É uma geração politicamente disponível.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
