O ataque raivoso e selvagem de Putin, com mísseis de médio e longo alcance, contra cidades ucranianas, incluindo a capital, matando e ferindo dezenas ou centenas de civis, é a confissão da imoralidade desproporcionada de um homem que já perdeu a batalha no terreno, e que usa agora todas as armas de que ainda dispõe, mas lançadas à distância, para aterrorizar e tentar vergar uma nação invencível.
A ponte de Kerch é obviamente um alvo militar de primeira importância, para cortar o apoio logístico às forças russas, e nada justifica que a retaliação se tenha feito, indiscriminadamente, contra alvos civis e infraestruturas de manutenção básica de vida dos ucranianos. Putin está de cabeça perdida, incapaz de perceber a desumanidade das suas ações militares, e na fase mais ameaçadora desde fevereiro. Kiev, e todos os aliados, sabiam que estes seriam os momentos mais perigosos e difíceis desta guerra.
Neste ataque, contudo, há dois dados fundamentais que Putin terá de passar a ponderar: mais de metade dos mísseis e drones foram intercetados, e abatidos (quase 60%), e isso é o sinal de que as suas armas mais poderosas já têm uma eficácia reduzida, o que militarmente é mais uma derrota estratégica. O outro ponto, fundamental, tem a ver com o reforço que os aliados têm de fazer, com toda a urgência, dos sistemas de antimísseis, que permitam uma proteção quase total de cidades e infraestruturas vitais. Para acabar com esta guerra, a Ucrânia tem de ter uma cúpula de ferro, que permita uma concentração total nas batalhas terrestres.
Já chegaram à Ucrânia os IRIS-T da Alemanha, que se vão juntar aos outros equipamentos enviados por outros países, em particular Londres, e que mostraram agora as suas capacidades na interceção deste tipo de arsenal russo, que também se tornará obsoleto e desprezível. É neste momento, de grande e justa indignação, que os Estados Unidos têm de enviar as versões mais modernas dos «Patriot», e dos THAAD, que são puramente defensivos, e que inutilizarão as últimas cartadas convencionais do Kremlin.
No dia em que a Rússia lançar 200 mísseis contra a Ucrânia, e em que 95/99% for destruída no ar, então Putin estará acabado, e terá de fugir. Não dos ucranianos, ou da NATO, mas dos seus próprios militares, políticos e cidadãos. Putin, sem querer, confirmou um velho axioma militar: a melhor estratégia e plano militar (pensava ele, no início do ano) não resistiu à realidade. O problema é que Putin nunca frequentou uma Academia Militar, e dá ordens como se fosse um general de quatro estrelas, ou marechal.
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