Putin deu mais dois passos para o abismo. Faltam poucos. Um, talvez. Mandou destruir secções do Nord Stream 1 e 2, e vai fazer a anexação formal, e pomposa, de quatro territórios ucranianos, Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizia, cuja extensão tem o tamanho de Portugal. Numa semana faz duas passagens ao ato, irracionais, impulsivas e desesperadas. Quer travar o vento com as duas mãos.
As explosões no Nord Stream são de autoria russa, mas acima de tudo constituem um sério aviso à NATO, e aos Estados Unidos: a Rússia tem capacidade militar para cortar, destruir, ou danificar todas as ligações submarinas entre países e continentes. Agora foi com o gás, mas um dia destes podem ser todas as comunicações e transferências de dados. É assustador, na verdade, mas a ameaça está feita, e foi demonstrada.
O outro passo em frente é a alteração formal, só para Moscovo, da guerra na Ucrânia. Amanhã, com a assinatura de uns papéis, a Ucrânia estará a invadir território russo, e isso implicará um conflito aberto e total com a Rússia. E aí sim, todos os meios poderão ser usados. Mesmo que agora, ironicamente, Lyman esteja em vias de ser reconquistada, em mais um avanço poderoso dos ucranianos, amanhã será proclamada a invasão de uma cidade estratégica, que passou a ser russa.
A guerra da Ucrânia, como a conhecemos, vai mudar de tom e agressividade. Não serão os 300 mil «reservistas» que contarão para este novo cenário, e muito menos os outros 300 ou 400 mil que já abandonaram o país, mas o último passo militar que Putin pode dar, invocando uma agressão contra a Rússia, sustentada pelas armas da NATO e EUA, é usar as armas nucleares. Ou começar por empregar as mais poderosas armas convencionais que ainda tem, de forma maciça, contra Kiev, Lviv, e infraestruturas estratégicas. Putin quer uma guerra total. Todos os Governos ocidentais evitam falar disso, para não causar uma onda de pânico e desordem global, mas os mais poderosos vigiam, 24 horas por dia, todos os passos militares que possam indiciar o movimento dessas armas. E todos estão preparados.
Ninguém conhece, em rigor, quando Putin se atirará para o abismo, mas o que se sabe, aqui e ali, é que existem comunicações e contatos frenéticos para tentar incapacitar Putin. E são feitos a um nível elevado, com altas patentes militares, e da chefia dos serviços secretos, que consigam penetrar no anel de segurança que rodeia o presidente russo, e outras autoridades da cadeia de comando. Sem recuar, sem pensar, sem vacilar, Putin está a um passo do abismo. E se ele cair, leva-nos a todos.
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