Parece idiota, mas a inflação e a recessão vão andar juntas, de mãos dadas, e os aceleradores desta insegurança global, já no último trimestre deste ano, continuam firmemente apostados em multiplicar o custo desta tragédia. Os pais dessa união são os bancos centrais, eles próprios arrepiados com as consequências, e a prever o pior, mas determinados a empurrar as economias e as pessoas para a desgraça.
Jerome Powell da Fed vive noutra época, do século passado, Christine Lagarde partilha o poder monetário com arquitetos da desgraça, o banco central do Reino Unido está de cabeça perdida, com a queda histórica da libra, e todos eles pertencem à mesma igreja e seguem o mesmo livro, que não é sagrado. «A inflação combate-se com o aumento de juros». É a única regra de obediência nesta irmandade.
Não lhes interessa, ou sequer preocupa, que esta inflação tenha uma origem diferente de todas as outras. Que não vai vergar ao custo do dinheiro, e muito menos à brutalidade repentina com que anunciam as novas taxas. Parece idiota, mas é o que temos. A este ritmo, as taxas de juro terão triplicado em 2023, ou até quintuplicado, mas a destruição que esse tufão causará não afeta a grandiosa e imponente casinha dos senhores governadores.
Sem dinheiro no mercado, tudo o que gera esta inflação terá tendência para se agravar. As matérias-primas ficarão mais caras, e escassas, os custos da energia atingirão preços insustentáveis, os transportes terão dificuldades inquietantes, e os consumidores finais deixarão de ter capacidade para absorver os sucessivos aumentos, taxas e sobrecargas. É a recessão a bater à porta, mas de forma violenta e brutal, empurrada pela inflação, e alimentada pelos donos do dinheiro.
Esta inflação também tem um pai, e reside na Rússia. A guerra está a descambar, com a anexação russa de territórios ucranianos, e isso multiplicará em cadeia o pânico que já se sente nos mercados, nas economias, nas empresas e nas famílias. Era suposto, nesta loucura, que os bancos centrais tivessem a cabeça fria, para não agravar a crise, e muito menos ajudar o senhor Putin. Mas não, eles estão por tudo. Têm medo, estão assustados, e transmitem isso, todos os dias, aos países e cidadãos que os sustentam. Putin, inesperadamente, começa a ganhar a guerra contra o Ocidente. Era só o que faltava.
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